Museus, para permanecerem vivos, devem atrair frequentadores de todos os tipos: estudantes, turistas, famílias em passeio de fim de semana, intelectuais, especialistas. Um bom museu contará com diferentes camadas de interesse para atender seus diferentes públicos, oferecendo curadoria, análise, informação, mas também diversão e impacto visual. O Museu da Língua Portuguesa rapidamente caiu no gosto popular porque desde o início promoveu a celebração e a valorização do nosso idioma de forma dinâmica e interativa, em exposições temporárias que destacavam autores como Machado de Assis, Fernando Pessoa, Rubem Braga e Oswald de Andrade, mas também gêneros, como poesia ou humor.
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Em um país em que a palavra escrita sempre foi considerada um patrimônio restrito a poucos, o museu nasceu com o objetivo de aproximar o cidadão comum do seu idioma, apresentando suas origens e influências e celebrando suas riquezas em um ambiente interativo, não intimidador, que usa a tecnologia e a museografia de forma inteligente e criativa. Localizada no histórico edifício Estação da Luz, reformado para abrigar o novo museu, a instituição realizava a ponte entre passado e presente que espelha a própria natureza de uma língua: tradição e constante renovação.
Com concepção geral da diretora Bia Lessa, a exposição Grande Sertão: Veredas inaugurou o museu em março de 2006. Os 50 anos da obra-prima de Guimarães Rosa foram comemorados com a reconstrução do caminho percorrido pelos personagens, trechos do romance lidos por Maria Bethânia sendo ouvidos nos alto-falantes e grandes painéis suspensos que permitiam ao visitante a leitura de toda a obra, a partir de reproduções dos rascunhos datilografados pelo autor.
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Para os apaixonados por Guimarães Rosa, uma Disneylândia literária. Para quem nunca leu ou sequer havia ouvido falar do autor, a possibilidade de conhecer e fruir um dos maiores patrimônios da nossa língua. Uma das exposições mais recentes, Esta Sala é Uma Piada, reunia charges, caricaturas e histórias em quadrinhos, com uma área especialmente dedicada ao humor produzido durante os anos da ditadura militar.
O erudito e o popular unidos por sua substância comum: a língua. Todos os museus são importantes, mas o Museu da Língua Portuguesa é essencial por lembrar a todos os brasileiros, inclusive os muitos que não têm o hábito da leitura, de que o nosso idioma é um patrimônio tão vivo e apaixonante quanto a música e o futebol.