A secação deveria ter fair play em 2024.
Não gostaria que nenhum time gaúcho caísse.
Não é justo diante das privações e dificuldades monumentais que experimentamos no primeiro semestre, quando encaramos o maior desastre ambiental do Rio Grande do Sul.
A enchente de maio fez o Grêmio passar quatro meses e 14 jogos longe da Arena. Não é uma situação que permita igualdade de condições com os demais participantes do Brasileirão. Assim como o Inter, transformou-se em um time mambembe, jogando sempre fora em etapa de consolidação do calendário. O Tricolor teve que atuar em quatro estados com o fictício mando de campo.
Mesmo que o Colorado tenha conseguido decolar e garantir vaga direta na Libertadores do ano que vem, sofrendo idêntica penúria, sua performance não serve como régua. Foi uma exceção honrosa e inacreditável, com 14 partidas sem perder, batendo o seu recorde de invencibilidade no certame: dez vitórias e quatro empates sob a batuta de Roger Machado.
O Grêmio parecia estável, o único do RS a não trocar de comando no vestiário, sem nenhuma ameaça de queda, até acumular três derrotas, um empate e apenas uma vitória nas últimas cinco rodadas. Não saiu do lugar (39 pontos), e viu o esquadrão de baixo se aproximar perigosamente. Faltando cinco compromissos, encontra-se a dois pontos do descenso. A distração custou caro — apoiada na clarividência do ídolo e estátua Renato Gaúcho de que o Grêmio não será rebaixado (frase entendida por um segmento da imprensa como onipotência).
O Juventude não teve seu estádio Jaconi comprometido pelas cheias. Em compensação, não apresentou o poder de investimento da dupla Gre-Nal. Inclusive, com plantel modesto, segurou a barra em boa parte da competição, com superioridade em casa e se complicando fora. Mas o padrão desandou, trocou de técnico (Jair Ventura por Fábio Matias) e imitou o histórico do Grêmio com três derrotas, um empate e uma vitória nas últimas cinco rodadas, engolindo o posto de primeiro rebaixado no momento, com 37 pontos.
Grêmio e Juventude realizam o clássico dos desesperados na quarta-feira (20), na Arena. Se Juventude vencer, ultrapassa o Grêmio, com chance de alcançar a pontuação de segurança com Cuiabá e Cruzeiro em Caxias do Sul. Se o Tricolor vencer, praticamente assegura sua permanência na Série A, restando atingir somente mais um triunfo (talvez com São Paulo ou Corinthians em Porto Alegre).
Empate tem sabor amargo. Não ajuda ninguém, não salva ninguém.
É um mata-mata na reta final entre dois gigantes do Sul do país. É final de uma competição moral paralela. Unicamente um irá sobreviver. Quem superar o confronto empurrará o oponente para o abismo.
Grêmio tem a vantagem da torcida fanática e apaixonada. Chegou ao limite da gordura. Não pode correr o risco de decidir as fichas com Cruzeiro (lutando pela Libertadores) e Vitória (lutando contra o Z4), respectivamente no Mineirão e Barradão.
Daqui para frente, o emocional pesa, o psicológico faz a diferença e o sobrenatural conspira contra a matemática.
Se Juventude repetir a campanha dos seus cinco recentes enfrentamentos, fica para trás, com 41 pontos. Se Grêmio repetir a campanha dos seus cinco recentes enfrentamentos, fica para trás, com 43 pontos.
É tudo ou nada, é virar a mesa.
Já aviso: não vou secar! Meu estado não merecia esse coliseu.