O romantismo é uma maldição, a 11ª praga do Egito, um incentivo à dependência, a autorização da eutanásia do romance.
Porque parte do pressuposto do perdão como esquecimento: você apronta várias vezes e pede desculpas na forma de uma homenagem pública, para seguir errando na vida privada.
É uma data de exceção, para azar do resto da semana, do mês, do ano.
Filia-se à ideia de comprar moralmente alguém para continuar junto, seja com flores, seja com jantar caro ou com presentes exorbitantes. Quer calar as dissidências num movimento de fora para dentro, da sociedade para a intimidade.
Romantismo é pagar fiança para se ver livre dos delitos da deslealdade e da infidelidade.
Você sufoca com elogios, constrange com agrados, amordaça com promessas, transferindo decisões pessoais e particulares para o julgamento unilateral dos amigos e familiares, que desconhecem o trato cotidiano.
Cria o condicionamento de que não importa a natureza das suas falhas, é só se arrepender depois com juras e regalos.
A prostração romântica busca satisfazer unicamente a opinião externa, não a parte interessada em reservado. São efeitos especiais para as redes sociais, num gesto de ostentação, aumentando o isolamento de quem sofre em segredo na convivência áspera e rude, já que sempre será desacreditado quando denunciar os maus-tratos. Afinal, o outro forjou um escudo da impunidade com a declaração, com um amor fabricado na hora para todo mundo ver.
Damos valor excessivo para o perdão em detrimento da prática regular da gratidão.
A crença numa conversão, numa mudança repentina de comportamento, prende pessoas a casamentos falidos. Privações e renúncias se consolidam pela esperança vã por uma transformação súbita daquele que sempre se mostrou do mesmo jeito torto e malandro.
De que adianta um dia inspirado se nos demais você suporta desrespeito, grosseria e voz alta?
Amor é constância, dispor de segurança emocional para confiar no seu par, contar com uma estrutura de igualdade e de paridade no exercício da rotina.
Amor é constância, dispor de segurança emocional para confiar no seu par, contar com uma estrutura de igualdade e de paridade no exercício da rotina.
Que alguns instantes sejam imprevisíveis, surpreendentes, não todos. Ninguém aguenta alternância de humor.
Torna-se fundamental manter uma média alta de educação e amizade. Eventual quebra pode ser relevada, não o contrário.
O romantismo tomou carona na caridade do cristianismo, em que mais valem as últimas palavras da remissão dos pecados. No meu entender, valem as palavras boas e ruins, o conjunto da obra, a soma das ações.
Não se deve ficar com quem não faz por merecer a sua companhia diariamente. Os românticos são os mais inadimplentes da realidade cordial.