Sou pai de dois filhos crescidos.
Saudade do tempo em que controlava os boletins escolares. Hoje não recebo nenhuma prestação trimestral. Tornei-me menos influente. Perdi a âncora do palpite, do conselho, da reprimenda.
Recordo que eu tinha um dever paterno com os filhos pequenos: não me atrasar na hora de buscá-los na escola.
Nem sempre cumpria o prometido.
Não havia nada que os magoasse tanto quanto toda a turma ir embora e eles esperarem o pai por mais de 40 minutos, morrendo de fome, ao lado de uma professora que ficava de castigo junto, cheia de compaixão pelas minhas crianças largadas no mundo.
O olhar de decepção dos filhos cortava o coração, e o olhar de raiva da professora picotava o resto.
Era um quadro reversível, mas ainda assim triste, de desamparo cotidiano, de desleixo amoroso. Não tem quem não adoeça com as fantasias de abandono.
Não adiantava justificar o atraso pelo engarrafamento, por um acidente na estrada interditando o trânsito, por um encontro profissional que excedera o combinado.
Desculpas não mudam a realidade. A demora doía igual, como se fosse um esquecimento.
Temos poucas obrigações públicas como pai, e não conseguimos honrar a maioria delas.
Além de buscar pontualmente o filho, devemos participar das reuniões escolares e comparecer às apresentações do fim de ano. É o básico da paternidade, nem está sendo exigida a proximidade maior, representada pela quermesse, pelos campeonatos esportivos e pelas gincanas.
Considerava as reuniões escolares engraçadas, pois aconteciam nas salas dos meus filhos.
Reduzíamos de tamanho repentinamente. Eu me acomodava na cadeirinha e na mesinha deles, assumindo o ponto de vista infantil diante da lousa. A humildade vinha misturada a uma necessidade de adaptação. Só a professora permanecia de pé, mantendo a autoridade. Nós, responsáveis pelas crianças, formávamos um bando de adultos brincando de casinha.
Eu me sentia Gulliver. Eu também me sentia penetra numa festa feminina, já que oitenta por cento da representação familiar acabava sendo composta por mães.
O tempo é cruel, não permite repescagens e passa rapidamente.
Não deixe de interagir com a escola do seu filho, não deixe de conversar com os professores, colegas e pais dos colegas. Você irá conhecer muito mais seu dependente a partir do que contam a respeito dele. Aprenderá virtudes e manias desconhecidas em casa, surpreendendo-se e se orgulhando das histórias ouvidas.
E tenha em mente que, no momento em que seu filho se encontrar no palco para uma apresentação, depois de meses de exaustivo ensaio, vai doer como nunca na vida a sua cadeira vazia na plateia.
Filho até se esquece de quando você esteve presente, mas jamais se esquece de quando você esteve ausente.