Alok amanheceu chorando pelo pai, que não via havia meses e que se encontrava refugiado depois do ataque do movimento islâmico armado Hamas, em Israel.
Seu pai, DJ Juarez Petrillo, participava do festival Universo Paralello no último sábado. Estava prestes a se apresentar no palco quando houve o bombardeio.
O festival de rave, que acontecia próximo da Faixa de Gaza, foi o estopim do conflito armado.
Hamas explodiu bombas sobre civis no badalado evento de música eletrônica, que reunia 3 mil pessoas. Há registro de 260 mortes e centenas de desaparecidos. Durante o ataque inesperado, integrantes armados atiraram para matar e sequestraram civis com o objetivo de criar uma rede de reféns para negociar exigências.
A violência deflagrada se mostrou maquiavelicamente planejada.
Nada mais estarrecedor do que levar as sombras da morte à celebração da vida.
Não há atenuantes. Não há compaixão. Não há piedade.
Existem inimigos mortais do outro lado, não importando as particularidades — se a vítima é adolescente, se é da paz, se é turista, se está grávida.
Guerra não pede carteira de identidade. É truculência no seu estado mais primitivo e irracional. Os filhos são os mártires prediletos.
A invasão a uma festa onde se dançava e cantava despreocupadamente evidencia o extremismo da causa.
É como declarar em alto e bom som a ausência completa de exceções.
Abre-se uma frente de terror num lugar marcado pelo pacifismo, numa festa de aproximação, de amizade e de amor, num marco de conexão social.
Quebra-se a vitrine da estabilidade e da segurança, para arrancar a possibilidade de neutralidade. Qualquer um é obrigado a opinar. O bom senso morre entre o islamismo e o judaísmo. Porque ideologia se discute, religião não, fanatismo muito menos.
A organização islâmica defende a criação de um Estado palestino, não reconhecendo a existência de Israel (conforme sua carta fundadora de 1988).
A Faixa de Gaza é minada de contradições, pois representa um território apertado, com várias pulsões étnicas. Limítrofe entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo, tem 365 quilômetros quadrados e cerca de 2,3 milhões de habitantes, uma das maiores densidades populacionais do mundo.
O terrorismo não poderia procurar diferente cenário para chamar a atenção a suas crenças. Tem o claro interesse de expor a debilidade da existência em alvos de alegria.
Massacres sanguinários se sustentam da covardia, de presas fáceis e desprovidas de defesa. Quanto maior a vulnerabilidade, maior a propagação da revolta e da reação. A diplomacia torna-se inútil.
Todas as tragédias que comovem a opinião pública envolvem a perda prematura de jovens, seja em escola, seja em acampamento ou balada.
É a ruptura monstruosa de regras humanitárias, atingindo o funcionamento da base familiar.
Alok chora de impotência. Isso que não perdeu ninguém como tantos outros.