Existem tantas piadas masculinas de mau gosto sobre a sogra porque esquecemos o básico: ela é mãe de nossa esposa.
Esquecemos o que representa para a mulher estar próxima da mãe, ter uma mãe, contar com a ajuda de uma mãe.
É só nos lembrarmos da importância de nossa mãe para desaparecer toda zombaria, toda graça, todo bullying.
Você admitiria que falassem assim da sua mãe?
Brincamos com o papel da sogra como um brinde indesejado ao priorizarmos a nossa reputação, jamais a de quem divide a rotina conosco.
Somos exclusivistas no amor. E não percebemos que tal boicote apenas enfraquece a convivência.
Não suportamos que alguém não nos coloque no centro do mundo. Não toleramos a concorrência.
A sogra age protetoramente com a sua filha, assim como nossa própria mãe faz conosco.
Somos exclusivistas no amor. E não percebemos que tal boicote apenas enfraquece a convivência. É tão bom ter uma mãe junto da esposa para ela não depender unicamente do nosso afeto. Que ela possa ter um colo, um ombro, uma mão de gentileza a mais, além do que oferecemos.
Eu não conheci a minha sogra. Falei com ela rapidamente por telefone. Por um desígnio inexplicável, pediu que eu cuidasse da Beatriz.
— Você é um sonhador. Cuide do meu mais bonito sonho.
Estávamos começando o namoro quando ela faleceu repentinamente de um câncer avassalador.
Depois de anos de sua morte, passei a ver o quanto eu também saí perdendo. O quanto sua ausência também me atingiu.
Há uma tristeza em Beatriz que não tenho como acessar.
Beatriz sempre se lembra da Clarinha. Quando ela ajeita excessivamente o penteado, recorda o que a mãe dizia: “vai tirar leite dos cabelos?”.
Beatriz ri ao evocar as palavras maternas, mas identifico hoje que seu riso é uma forma de chorar por dentro sem ninguém perceber. Acostumou-se a prantear na alegria da saudade.
É um riso triste com metade da boca. Sempre será um riso triste pelo resto dos dias. Não tenho como curar essa dor, essa falta, ou me meter nessas conversas que continuam acontecendo após o enterro.
Elas guardam histórias que são somente delas. Sem nenhuma outra testemunha.
Beatriz perdeu a sua mãe. Essa é a verdade. Só quem perdeu a mãe sabe o que significa. A sogra é uma mãe, mais nada. A mãe à qual deveríamos agradecer pelo nascimento da mulher de nossa vida.
Por isso, entendo o sofrimento de meu amigo e colega da Rádio Gaúcha, o apresentador Antonio Carlos Macedo, que se despediu da sogra Maria Matteo Nunes, 91 anos, na terça-feira (20). Ele está casado há 41 anos com Cristina. Ou seja, por mais de quatro décadas cultivou e admirou a presença da sogra por perto.
Maria o adotou no tempo da ternura como um filho, muito mais do que um genro.
Ela era a bênção, o teto de mãos nas testas do casal. Com a sua partida, a família fica um tanto destelhada.
É um luto de várias pontas. Por tudo o que Macedo sente pela Cristina, por tudo o que Macedo aprendeu a sentir por Maria.