A mente inquieta de Jair Kobe, criador do Guri de Uruguaiana, não para de criar. O personagem, que é sucesso de público nos palcos gaúchos há 22 anos, está à frente de diversos projetos: o podcast Matecast, mais uma temporada de seu espetáculo de Natal, inserção no cenário do stand-up comedy e, em breve, até um longa-metragem.
O filme vai se chamar Superbagual, com direção de Ivo Schergl Jr. e roteiro assinado por Fabrício Eckhard e Letícia Wierzchowski (conhecida pelo grande público como a autora do romance A Casa das Sete Mulheres, que virou minissérie da Globo em 2003). Para começar a filmar, a equipe está à espera do financiamento da Lei Paulo Gustavo - Lei Complementar nº 195, de 08 de julho de 2022, que dispõe sobre ações emergenciais destinadas ao setor cultural a serem adotadas em decorrência dos efeitos econômicos e sociais da pandemia da covid-19. Parte do elenco já está escalado e já conta até com uma prévia de cartaz.
Confira o bate-papo com o artista porto-alegrense de 64 anos, que detalha os primeiros passos de seu personagem no cinema e destaca os pontos altos e as curiosidades de sua carreira.
Guri de Uruguaiana vai protagonizar um filme. Como será esse projeto?
Estamos no aguardo da resposta da Lei Paulo Gustavo. Se esse filme for aprovado no edital, será um divisor de águas. É um longa-metragem: Guri de Uruguaiana se transforma em um super-herói em Superbagual. Temos 50 artistas convidados, já com carta de anuência assinada, Paulinho Mixaria, Elton Saldanha, vários artistas gaúchos, Marcos Breda, Zé Victor Castiel, Ricardo Macchi, Werner Schünemann, Rogério Beretta. É uma produção do cinema gaúcho, com artistas gaúchos. Se não rolar com a Lei Paulo Gustavo, vamos atrás de outros financiamentos. Está tudo pronto.
Como surgiu a ideia do roteiro?
Um dia, sonhei com essa história e acordei entusiasmado: o Guri toma um chimarrão e passa a ter poderes (risos). Esse é o mote. Primeiramente, pensei em fazer um vídeo, depois achamos que poderiam render uma série, até que chegamos na ideia do filme. Tá bem feitinho, tem chance (de ser contemplado na Lei Paulo Gustavo). Guri de Uruguaiana vai virar o Superbagual.
O personagem Guri de Uruguaiana completa 22 anos, é um fenômeno de popularidade e já emplacou vários espetáculos de sucesso nos palcos gaúchos, como Causos do Guri, Guri - A Missão, Guri e Banda e Programa do Guri. Já planeja um próximo?
Nesta época do ano, desde 2014, encenamos Natal do Guri. É um megaespetáculo com 15 pessoas no palco, bailarinos, músicos, cantores e instrumentistas (o evento, que dura uma hora e meia, é contratado pelas prefeituras, com entrada gratuita). A gente se apresenta em várias cidades, normalmente em praças, é um show de Natal. Começa agora, no dia 26 (nesta terça-feira), em Montenegro. Em dezembro, já temos mais 12 datas confirmadas.
Neste ano, o Guri completa 200 apresentações no Theatro São Pedro. Como é, para um artista popular, atingir essa marca em um palco tão tradicional?
O show Guri - A Missão ocorre, desde 2011, na temporada de abril do Theatro São Pedro. Em 2011, o convite do Theatro foi justamente por conta disso: levar um humor mais popular para lá, um artista gaúcho, porque existia uma impressão de que o Theatro São Pedro era muito elitizado, que só trazia espetáculos do centro do país, né? Então, me convidaram. Foi um desafio para nós na época. Embora seja um espetáculo de humor popular, a qualidade do que a gente leva para o Theatro São Pedro, todo mês de abril, é muito boa.
Qual dos seus espetáculos mais gosta de realizar?
O Programa do Guri é um negócio fantástico, um programa de auditório em que a plateia participa, tem convidados especiais, quadros. Eu me divirto muito. Sou fã desse produto.
Como começou o Matecast? Você seleciona os entrevistados?
Na verdade, eu criei um quadro na internet, que se chamava Mateando com o Guri, em que batia papo com algumas personalidades. Por conta da minha longevidade na história musical, que vem lá dos anos 1980, com o grupo Canto livre, eu costumo convidar, as pessoas vão porque me conhecem desde lá. Eu já entrevistei um monte de gente da música gaúcha, da música urbana, artistas do humor e celebridades. A gente ainda só não está entrevistando políticos e empresários, porque abriria muito o leque. Não é a praia do Guri. E acho que é o único podcast em que o entrevistador é um personagem, o Guri, no caso.
Qual foi a melhor entrevista?
Eu gostei muito do Santo Fole (o gaúcho Paulinho Pezak, dublador e sanfoneiro), porque eu sou fã do trabalho de dublagem dele. A entrevista com o (Alexandre) Fetter (comunicador do Grupo RBS) me surpreendeu pela audiência, a entrevista foi maravilhosa.
Pensa em adaptar os textos do Guri para o cenário do stand-up comedy?
É aquela história da inovação, de estar sempre ligado no que está acontecendo. No humor, o que está em alta hoje é o stand-up, que está arrebentando, então eu já estou me adaptando para esse novo formato. Já estou pensando em lançar, no ano que vem, um outro produto nesse formato. Eu sempre tive interação com o público, mas mais discreta, e sei o quanto o público acha legal essa interação do stand-up. A partir de março, quero começar com uma experiência nas casas de stand-up comedy do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, mas com o Guri e um outro personagem meu, que eu adoro, o mágico Serguei Baittabichovisky. Não faria personagens femininos, que muita gente faz, mas não tenho essa habilidade. Muita gente pergunta se não vou fazer algo "de cara limpa", não me chama a atenção, não tenho essa vontade.
Sua família (a esposa, Silvia Helena, 63 anos, e as filhas Júlia, 20 anos, e Rafaella, 24 anos) dão pitacos na sua carreira? Participam de algo diretamente?
Elas não trabalham comigo, mas acompanham os espetáculos de Porto Alegre. Elas adoram, vão em todas as noites com amigos, namorados, todo mundo. É o momento da família. Nos espetáculos em Porto Alegre, a Silvia Helena cuida da produção de teatro. Fora isso, dá pitaco. Pitaco é com ela mesmo (risos).