A conservação do solo passa por ações bem conhecidas do produtor. A aplicação das técnicas, no entanto, ainda não é regulada no Rio Grande do Sul. Ao contrário do Paraná e de São Paulo, e do vizinho de fronteira Uruguai, o Estado não tem legislação específica para evitar erosão e degradação das terras agrícolas.
Baixa rotação de culturas diminui a produção de palha no inverno
Leia as últimas notícias de Campo e Lavoura
Maior consumo de integrais abre oportunidade para agricultores
- No Uruguai, só é permitido plantar soja em no máximo um terço da área. Aqui, a escolha fica por conta do agricultor - compara Edemar Streck, assistente técnico estadual da Emater.
Há alguns anos, um projeto de lei chegou a ensaiar a saída do papel na Assembleia Legislativa, mas a resistência de representantes do setor produtivo acabou travando a proposta. Agora, entre as metas indicadas pelo governo estadual, está a elaboração de um programa da gestão da água e do solo. A projeção é apresentá-lo antes do fim do ano.
- Cada solo tem uma aptidão agrícola, considerando não apenas suas características, mas a região como um todo - destaca Antonio Roque Dechen, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável, o professor alerta que o solo não pode ser visto apenas como um bem de exploração, mas também de conservação para gerações futuras.
- Por isso, é importante que cada Estado tenha legislação própria para regular o uso da terra agrícola, considerando questões regionais - afirma Dechen.
Gisele Loeblein: qual será o espaço do trigo no próximo inverno
Citando o exemplo positivo do Paraná, que conseguiu recuperar áreas com erosão, o professor explica que a lei de uso do solo não deve apenas chamar a atenção de quem não cuidar da terra, mas beneficiar os produtores que fazem a lição de casa.
- Já avançamos bastante, o produtor está cada vez mais consciente com as questões ambientais - acrescenta Dechen.
Um dos exemplos é a rotação de culturas com o arroz irrigado, em áreas de várzea do sul do Estado. A introdução da soja nas terras baixas possibilitou a semeadura direta de arroz em sucessão, sem necessitar o revolvimento do solo, explica o agrônomo Darci Uhry Junior, do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga).
- A rotação com soja trouxe inúmeros benefícios econômicos e agronômicos para a lavoura de arroz - afirma.
PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO
Uso da terra conforme a aptidão agrícola
Cada solo tem características específicas. Os mais arenosos retêm menos água do que os argilosos. Ou seja, o arenoso precisa de mais palha para facilitar a infiltração da água.
Plantio em nível
Os cultivos devem ser feitos no sentido transversal ao declive, fazendo com que a linha de semeadura favoreça a retenção da água. A prática reduz em até 50% os riscos de erosão no solo. A semeadura morro acima ou morro abaixo é a principal causa de erosão hídrica que ocorre no plantio direto.
Diversificação de culturas
A rotação de culturas (palha e raiz) é fundamental para manter a quantidade adequada de material orgânico no solo. Cerca de 70% da área plantada com culturas anuais no Estado recebe soja e milho na safra de verão e aveia preta e azevém espontâneos (guachos) no inverno. Esse modelo vem degradando a composição física e a fertilidade do solo.
Terraços
Barreiras feitas na lavoura conduzem as águas que não se infiltram no solo, impedindo que enxurradas levem para rios nutrientes e agrotóxicos. A água retida no terraço se infiltra no solo, irriga a lavoura e demora de três a cinco meses para chegar aos rios. A adoção do sistema plantio direto em lavoura com terraços agrícolas evita as perdas de nutrientes por erosão e pode gerar economia superior a 40% em fertilizantes, por ano agrícola.
Adubação de pastagens
Áreas ocupadas por grãos no verão e pecuária no inverno precisam ser adubadas para compensar o baixo nível de palhada e do pastoreio dos animais.