Foi com a firmeza que lhe é característica que a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, circulou pelo parque da Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, no norte do Estado. Ficou literalmente em linha direta - passou boa parte do tempo ao telefone - com Brasília. Trouxe notícias positivas, como liberação de R$ 1,5 bilhão com juro reduzido, e outras que certamente não estavam na lista de desejos dos produtores, como a certeza de que as taxas irão subir nos financiamentos da próxima safra.
Mas vem de outro assunto abordado nesta segunda-feira pela ministra o potencial para polêmica. Kátia disse que haverá uma mudança no marco regulatório de agrotóxicos. As regras atuais são consideradas burocráticas por agricultores e indústrias do setor, e o andamento dos processos de liberação de novos registros, moroso. Hoje, o cadastro passa por três órgãos diferentes - Agricultura, Ibama e Anvisa.
- Precisamos de um marco com a presteza e o tempo certo - afirmou a ministra, acrescentando ainda que a atual regulamentação não acompanha a velocidade da chegada de novas pragas às lavouras.
Embora reconheça a carência de pessoal nos órgãos que avaliam os processos de agrotóxicos, Paulo Brack, professor da UFRGS e coordenador do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), vê com a preocupação a possibilidade de mudanças. Brack diz que há informações de que a Agricultura passaria a controlar mais o processo. E ressalta que o país tem liberado produtos em caráter de exceção - caso do benzoato de emamectina, cujo uso foi autorizado, de forma temporária, em áreas onde foi decretado estado de emergência fitossanitária:
- Isso enfraquece o controle. O Ministério da Agricultura tem de pensar em formas de superar o uso excessivo de agrotóxicos no Brasil, buscar alternativas.
Kátia não detalhou o que, exatamente, deve mudar nas regras. Mas certamente esse é um assunto que vai gerar debate bem além dos limites de Não-Me-Toque.