O excesso de precipitações no Estado, que deixou milhares de gaúchos desabrigados, também é motivo de preocupação para o campo. Além dos transtornos causados nas rodovias que escoam a produção, as enxurradas pairam como uma ameaça sobre a safra de trigo.
Já em atraso, o plantio da principal cultura de inverno corre o risco de extrapolar o zoneamento agrícola de risco climático. É o período estabelecido pelo Ministério da Agricultura para a semeadura no Rio Grande do Sul. Fora dessa janela, o produtor fica por conta e risco. Não consegue acessar nem crédito, nem seguro rural.
Diante do cenário atual, já se cogita a solicitação da ampliação do prazo do zoneamento para a safra de trigo, que se encerra no dia 31 deste mês.
- Estamos terminando os estudos para ver como fazer essa solicitação ao ministério - afirma Aureo Mesquita, secretário-adjunto da Agricultura e coordenador da Câmara Setorial do Trigo.
Na semana passada, o avanço da semeadura estava 10 pontos percentuais abaixo da média histórica para o período.
Nas principais regiões produtoras do Estado, o prazo para o cultivo se encerrou nesta segunda ou está perto de terminar. Palmeira das Missões, por exemplo, não chegou a 60% da área, afirma Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). E o que foi plantado, não se sabe em que condições vai ficar.
- Tem áreas que estão há 10 dias debaixo d'água - acrescenta Dulphe Pinheiro Machado Neto, gerente técnico estadual da Emater.
Com a umidade acumulada, é preciso em torno de quatro dias de tempo seco para retomar o plantio.
Há outra situação que é igualmente problemática.
A chuva está provocando erosão do solo e arrastando nutrientes e fertilizantes, deixando literalmente um rastro de destruição sobre os campos gaúchos.
Ainda é cedo para traçar um panorama decisivo para o trigo - já houve anos em que o plantio ocorreu mais tarde e o resultado foi uma boa colheita. Considerando que os produtores gaúchos seguem batalhando para vender a colheita recorde do ano passado em estoque, o clima bem que podia colaborar com a produção atual.