Foto: Bruno Alencastro
Foto: Mauro Vieira
Competição mais importante do cavalo crioulo, o Freio de Ouro tem neste final de semana uma etapa importante. Mais do que uma classificatória para garantir vaga na grande final da prova, durante a Expointer, o Bocal de Ouro tem revelado, nos últimos anos, favoritos ao título.
Na seletiva, 96 animais inéditos passarão pelo parque Assis Brasil, em Esteio, mostrando toda a habilidade e a beleza da raça. No total, a disputa envolverá mais de 1,8 mil animais, movimentando um mercado anual de R$ 1,3 bilhão. Confira destaques e curiosidades que devem marcar esta edição da prova.
A peleia sem Oraca
Um conjunto - animal e ginete - apto a disputar o Freio de Ouro tem muita semelhança com um atleta que visa aos Jogos Olímpicos. São anos de treino duro e preparação para estar em condições de buscar o título máximo do seu esporte. Para os que alcançam a vitória, o momento da pós-conquista segue normalmente dois caminhos: encontrar nova motivação e permanecer na batalha ou colher os frutos do esforço.
No caso da campeã do Freio 2013 e égua mais premiada da história da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), a escolha foi pela segunda opção. Depois de ver a fêmea no topo do pódio, os proprietários de Oraca do Itapororó (foto acima) decidiram aposentá-la das pistas. Nem o lugar garantido para a final deste ano, inovação nas regras da competição, cativou Aldo Vendramin, da Estância Vendramin, de Palmeira (PR):
- Depois de ganhar o Freio de Ouro, a aposentadoria foi imediata - diz.
Primeiro animal da competição a ganhar nota 10 em morfologia, e considerada por muitos como exemplar perfeito da raça, Oraca descansa em sua cocheira especial na propriedade enquanto seus donos lucram com o prestígio conquistado. Com a valorização dos herdeiros, a intenção é usar a fama do animal para impulsionar o primeiro leilão da estância, previsto para o próximo ano.
- Nossa expectativa é grande. Qual criatório não gostaria de ter uma filha da Oraca? - vislumbra Vendramin, sem estimar ainda valores para os herdeiros da égua.
Já com o campeão dos machos, a volta ao circuito ainda é uma incógnita. Augusto Marques de Souza, proprietário de Cadejo da Maior, da Cabanha Santo Izidro, de Santa Maria, ainda vai esperar mais um tempo para decidir o destino do animal.
- O cavalo está sendo preparado para, quem sabe, disputar a final. Trabalhamos com a possibilidade, mas não tomamos a decisão ainda. Depende da saúde do animal - comenta.
Muito além da beleza
A multipremiada Oraca do Itapororó é também ícone de um movimento cada vez mais evidente entre os competidores do Freio de Ouro: cavalos com carreira de destaque no circuito de morfologia buscam posições cada vez melhores nas classificatórias e na final. Há dois anos, quando ficou em segundo lugar na decisão, Oraca foi o primeiro animal a receber 10 de um jurado na avaliação morfológica do Freio. No ano passado, com a conquista do Campeonato de Morfologia da raça crioula, tornou-se a maior campeã da história da ABCCC.
Neste ano, os dois primeiros colocados para o Bocal de Ouro também se destacaram no circuito morfológico. Estreante nas disputas funcionais, Igualita da Reconquista obteve premiações expressivas desde 2010, quando foi terceira melhor potranca da Expointer. No ano seguinte, sagrou-se campeã égua menor em Esteio e representante do Brasil na competição organizada pela Federação Internacional de Criadores de Cavalos Crioulos em 2012, no Uruguai.
Com o fim da peregrinação pelas disputas de morfologia, a égua foi levada em 2013 para o Centro de Treinamento do ginete Daniel Teixeira, em Júlio de Castilhos, se onde se prepara para o Freio.
- Ela sempre demonstrou aptidão funcional, bom temperamento e habilidade - diz o multipremiado Teixeira.
Como 37% da nota no Freio vem da morfologia, o prognóstico é positivo. Mas a condição de favorita é descartada pelo proprietário, Marcelo Tellechea Cairoli, da Cabanha Reconquista:
- A gente espera que faça um bom papel, mas não acredito em favoritismo em um competição tão disputada.
O primeiro colocado para o Bocal de Ouro entre os machos também honrou o nome no circuito morfológico. Viragro do Rio Bravo conquistou cinco títulos de grande campeão em exposições da raça e é filho de Viragro do Rio Tinto, quarto lugar no Freio de Ouro 2010, valorizado em R$ 10 milhões.
- Ele é a nossa grande aposta - afirma Gilberto Loureiro de Souza, administrador da Viragro Agropecuária.
Força dos hermanos
A classificatória argentina chegou à nona edição em 2014 e, pela primeira vez, preencheu as oito vagas possíveis para a grande final da competição, em Esteio. Mas não foi o único destaque deste ano. O avanço dos argentinos é espelhado na profissionalização do trabalho com a raça crioula no Brasil, onde a cada ano a disputa para o Freio é mais acirrada, conta o presidente da ABCCC, Mauro Ferreira:
- É a consolidação do processo, uma consequência do que tem sido feito por lá. Sempre tiveram bons cavalos, bons ginetes, só não estavam bem preparados para a prova.
Com o resultado, a expectativa é que os argentinos atinjam o mesmo status do vizinho, Uruguai, primeiro país estrangeiro a receber etapas da competição.
- O Uruguai está há mais de 20 anos no Freio. Os criatórios têm bem mais influência do brasileiro - diz Ferreira.
Etapa itinerante a partir do próximo ano
Para 2014, o calendário das etapas do Freio de Ouro está definido e tem como novidade a primeira disputa no município catarinense de Araranguá (veja quadro). Para o próximo ano, a expectativa é alcançar novos limites no país. Com a programação atualmente concentrada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, a ABCCC já acertou para 2015 a substituição no local de uma das classificatórias abertas, antigamente chamadas de repescagens. Para aproximar a competição dos novos criadores do centro do país, Esteio cederá espaço a uma etapa itinerante. O local ainda não está definido, mas, segundo o presidente da ABCCC, Mauro Ferreira, São Paulo está em vantagem, neste momento, na disputa para receber a seletiva.
- Nós temos cada vez mais investidores crioulistas no centro do país, e esse número crescente precisa ser bem acompanhado. A melhor forma de fazer isso é levar as provas mais importantes - explica Ferreira.
O anúncio do local da disputa está previsto pela ABCCC para setembro.
Chuva ainda é ameaça
Enquanto as críticas à situação de algumas pistas no interior dos três Estados do Sul fizeram a ABCCC aumentar a exigência de melhores condições, no palco da grande final - o Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio - obras previstas no ano passado vão demorar um pouco mais a ficar prontas. Em 2013, foi por questão de horas que a pista de Esteio conseguiu resistir.
A chuva que castigou o primeiro final de semana da Expointer elevou o nível dos arroios no entorno do parque e, pouco após o final da competição, o espaço foi tomado pelas águas. Caso o tempo não colabore neste ano, o cenário de problemas poderá se repetir.
A construção do dique para contenção do Arroio Esteio ainda não está garantida, assim como a conclusão dos acessos da Rodovia do Parque.
A sonhada cobertura da pista, parte do projeto da Arena do Cavalo Crioulo, que prevê investimentos de R$ 15 milhões, não será feita neste ano. A falta de tempo para finalizar a estrutura a tempo da decisão é a justificativa da ABCCC para adiar a obra.
Foto: Tadeu Vilani