Com um embaixador na Expodireto pela segunda vez, o governo da Nigéria confirma ter objetivos ousados para a agricultura. A produção ainda pouco mecanizada e insuficiente para abastecer o mercado interno está levando o país a investir em uma parceria com o Brasil para desenvolver a cultura do arroz. A proposta é atrair produtores para plantar o grão por lá, em troca de conhecimento e tecnologia. A meta vai além da autossuficiência do país nessa cultura: quer deixar de ser um dos maiores importadores de arroz do mundo e começar a exportar o grão, sobretudo para nações vizinhas.
Em troca de terra e de incentivos fiscais, os nigerianos esperam que os gaúchos levem tecnologia, qualidade e alta produtividade para a produção do país. Um grupo de agricultores do litoral norte gaúcho se interessou pela proposta e deve visitar o país neste ano. Querem ver de perto o tipo de solo da Nigéria, que tem clima semelhante ao do Brasil. O coordenador da área internacional da Expodireto, Evaldo Silva Junior, avalia que o país tem condições de atingir o objetivo de produzir mais arroz para exportação.
- A Nigéria já é um polo comercial dentro da África. Outros países vão buscar produtos lá - comenta Silva.
Presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Claudio Pereira tem posição mais cautelosa. Ele afirma que não seria bom para o país e nem para os produtores fecharem negócios com a Nigéria sem acordo bilateral.
- Com apoio do governo, os produtores têm segurança jurídica garantida - recomenda Pereira.
Em 2013, Pereira integrou uma comitiva que visitou a Nigéria e afirma que o Irga ofereceu ao país os serviços de capacitação técnica, mas com a condição de que o governo baixasse as taxas de importação para o arroz brasileiro. O país africano aumentou em mais de 100% as taxas de importação de arroz em 2013, o que barrou a entrada do grão brasileiro no país.
- Não podemos levar nada de graça. Pedimos que eles dessem preferência ao Brasil na hora de comprar arroz, pelo menos até garantir a autossuficiência - diz Pereira.
ENTREVISTA: Adamu Emozozo embaixador da Nigéria no Brasil
Zero Hora - Por que a Nigéria busca o Brasil como parceiro para produzir arroz?
Adamu Emozozo - A Nigéria e o Brasil são bons parceiros e queremos continuar a trabalhar juntos e fazer negócios em muitas áreas, entre as quais a agricultura. Quanto ao arroz, queremos ter autossuficiência e exportar, tendo como exemplo o Brasil. Temos acesso à terra, mas precisamos desenvolver a tecnologia no plantio. E o Brasil já tem esse know-how.
ZH - Qual o retorno para os produtores brasileiros que decidirem plantar na Nigéria?
Emozozo - O governo nigeriano oferece terras por 99 anos e incentivos que incluem cinco anos de isenção de impostos e descontos nas taxas de importação de implementos. Os produtores plantarão na Nigéria, mas não venderão apenas para nós. Há na região uma zona de livre comércio e ninguém vai limitar os lucros dos produtores. Na Nigéria, os brasileiros estarão em casa. Oferecemos segurança comercial, prosperidade comercial e cooperação coletiva.
ZH - Ao conceder terras aos brasileiros, não há risco de conflitos com os produtores nigerianos?
Emozozo - Não, porque o foco é produzir alimentos. Há espaço para todos. Cedemos terras para produtores do Zimbábue e não tivemos problemas. Produtores chineses já estão plantando na Nigéria.
ZH - Por que, apesar da busca por uma parceira, o governo nigeriano aumentou as taxas de importação de arroz, barreira que acabou prejudicando o Brasil no último ano?
Emozozo - Não se tratam de barreiras. Para construir uma nação, temos de iniciar uma reforma. A Nigéria não importava arroz apenas do Brasil, mas também de países como Estados Unidos e Tailândia. Queremos produzir mais arroz, mas para isso precisamos de tecnologia a um preço acessível. Hoje, apenas cinco dos 36 Estados da Nigéria produzem arroz. Podemos produzir em todo o território.