Cansada do argumento da indústria nacional de que o trigo gaúcho não vende porque não tem qualidade, a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) decidiu usar uma ferramenta mais eficaz de persuasão. Dados de análises feitas pela Universidade de Passo Fundo, a partir de amostras, servirão como argumento, explica o presidente da entidade, Carlos Sperotto:
- Estão semeando uma posição que não aceitamos, de desqualificação do trigo gaúcho.
Com a informação em mãos, um dos objetivos é pressionar o governo federal para que não reedite a isenção da tarifa externa comum de 10%, cobrada para importação de trigo de países de fora do Mercosul. O movimento de desvalorização do preço do produto do Rio Grande do Sul e a baixa velocidade de venda também preocupam. Das 3 milhões de toneladas colhidas, 80% ainda estariam estocadas, à espera de comercialização, conforme a Farsul.
Presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado (Sinditrigo-RS), José Antoniazzi diz que a indústria é parceira do cereal gaúcho. Pelo menos dentro do Rio Grande do Sul (a má fama fora daqui é outra história).
Um terço da colheita - cerca de 1 milhão de toneladas - é utilizada pelos moinhos daqui. Outras 300 mil toneladas de trigo melhorador são trazidas de fora.
- Para fazer o pão francês, por exemplo, é preciso ter o trigo melhorador - afirma Antoniazzi.
Mesmo que a indústria utilizasse 100% do cereal do Estado, sobraria produto. Por isso a importância das vendas para outros destinos. Na avaliação do presidente do Sinditrigo, questões como logística e segregação (separação por qualidade específica) são fatores que atrapalham os negócios gaúchos.
Nesta segunda-feira, o Ministério da Economia argentino afirmou que o país irá liberar, de forma gradual, 1,5 milhão de toneladas de trigo para exportação. A Argentina é tradicional fornecedor do Brasil - que precisa importar cerca de 6 milhões de toneladas para atender a demanda. É outro ingrediente a se considerar na equação do trigo.