Com título de campeã, a maior produtora de soja na Região Sul ainda não desfruta todos os benefícios dessa liderança. A riqueza gerada pelas lavouras da gaúcha Tupanciretã, estimada em R$ 360 milhões neste ano, não se reflete em geração de empregos e em condições de infraestrutura.
Com mais de 140 mil hectares cultivados com o grão, a cidade ainda escoa 98% da sua produção agrícola em estradas de chão batido. São mais de 2 mil quilômetros sem pavimentação, onde caminhões precisam fazer malabarismos para escapar de buracos.
- Além de melhorar estradas, nosso grande desafio é gerar emprego com a atração de indústrias - admite o prefeito Carlos Augusto de Souza (PP).
Mesmo com a maior produção entre os três Estados do Sul, Tupanciretã não tem indústrias - nem de beneficiamento do grão que tanto produz.
- O produtor, nesses anos todos, se especializou no cultivo, investiu, fez sua parte. Para agregar valor ao produto e trazer emprego, porém, é preciso a mobilização de gestores e de empresários - aponta Belquer Lopes, presidente do Sindicato Rural de Tupanciretã.
Para tentar quebrar esse jejum industrial, a prefeitura negocia a instalação de dois empreendimentos - uma unidade de esmagamento de grãos e outra de fabricação de implementos agrícolas.
- Oferecemos incentivos fiscais e terreno para trazer essas indústrias - explica o prefeito, ressaltando que a população mais jovem acaba migrando em busca de emprego para municípios vizinhos industrializados, como Panambi e Ibirubá.
Os atuais reflexos econômicos da soja se resumem ao comércio e ao setor de serviços. São sete empresas de recebimento de grãos, com 25 unidades que armazenam a soja para comercialização posterior - fomentando serviços como mão de obra e frete. Com 1,5 mil associados, somente a Cooperativa Agrícola Tupanciretã (Agropan) recebeu 268 mil toneladas nesta safra.
No comércio, o impacto das boas safras podem ser vistos nas revendas de máquinas e implementos e também no consumo de itens como eletrodomésticos e vestuário, diz Marcelo Malheiros, secretário do Desenvolvimento Rural, Industrial e Comercial. Mas, na geração de emprego, o grande propulsor ainda é o campo, que absorve 1,6 mil trabalhadores.
- Há falta de mão de obra qualificada. Muitos jovens migram para outras cidades - lamenta Marcio Dias, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tupanciretã e Jari.
Veja os reflexos da soja em três cidades em que o grão é destaque:
Tupanciretã (RS)
Produção: 420 mil toneladas
População: 22,4 mil habitantes
PIB per capita: R$ 23,2 mil
IDH*: 0,787
Nova Maringá (MT)
Produção: 420 mil toneladas
População: 16,2 mil
PIB per capita: R$ 27,5 mil
IDH*: 0,757
Luis Eduardo Magalhães (BA)
Produção: 455 mil toneladas
População: 66,3 mil
PIB per capita: R$ 34,9 mil
IDH*: 0,741
Campeões em produção no país
(em mil toneladas)
1º Sorriso (MT) 2.088,50
2º Nova Mutum (MT) 1.161,60
3º Sapezal (MT) 1.090,00
4º Formosa do Rio Preto (BA) 1.085,20
5º Campo Novo do Parecis (MT) 990,35
28º Tupanciretã (RS) 420,00
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
*Índice de Desenvolvimento Humano, medido por uma combinações de dados sobre saúde, educação e renda