A estiagem no Amazonas revelou um segredo até então escondido no Rio Madeira. Com a baixa no nível da água, que atingiu 10m53cm na quarta-feira (16), conforme a Defesa Civil do Estado, um navio naufragado no século 19 emergiu no município de Manicoré, a cerca de 331 quilômetros de Manaus.
Os primeiros destroços da embarcação foram vistos por marinheiros e ribeirinhos ainda na última semana de setembro, mês em que os 62 municípios amazonenses decretaram situação de emergência devido à falta de chuva e avanço das queimadas. Conforme o g1, o navio está encalhado na passagem de Pedral do Marmelo, no município do interior do Estado.
A embarcação de origem norte-americana é uma construção conhecida na área naval como um navio "chato", de pouco calado. A identificação dela, no entanto, precisa de uma análise dos destroços com dados que descrevam a navegação nos rios da Amazônia durante o século 19, explica o doutor em História Social Caio Giuliano Paião ao g1.
— Certamente é um navio construído entre a segunda metade do século 19 e início dos anos 1900. Agnello Bittencourt (geógrafo e historiador brasileiro) elencou alguns naufrágios que se encaixam nessas características no Rio Madeira. Precisaríamos de uma pesquisa mais acurada, mas alguns nomes nos veem à cabeça pelas características dos navios e localização aproximada de seus naufrágios. Os vapores: Içá (1881-1893), Canutama (construído em 1900) e a lancha Hilda — destacou o professor.
A superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Amazonas, Beatriz Calheiros, informou que a embarcação ainda não foi reconhecida como patrimônio cultural. O título depende de informações técnicas para determinar o contexto histórico que envolve o navio.
Relatos
Pescadores que atuam na região relataram que os destroços da embarcação já foram vistos outras vezes, mas eram confundidos com pedras. Com a seca histórica deste ano, o navio naufragado ficou totalmente visível pela primeira vez e chamou a atenção dos ribeirinhos.
— Sempre nas secas do Madeira já chegou a aparecer a ponta dele, era até usado como referencial, mas era muito raro acontecer. Esse ano foi a primeira vez que ele apareceu mesmo. Eu trabalho há quase 15 anos viajando pelo Madeira e sempre seca muito, mas raramente a gente via algo do navio — contou ao g1 Claudiomar Araújo, chefe de máquinas de uma empresa de balsas que atua na região.
A história do naufrágio de uma embarcação no Rio Madeira já era repassada entre moradores e familiares da região, como é o caso do ribeirinho André Ribeiro, que a conheceu pelo avô.
— Para gente é uma surpresa muito emocionante porque a gente só ouvia histórias que esse navio transportava borracha e minério — revelou.