Voluntários que organizam abrigos de pets da região metropolitana pedem ajuda para os governos para seguirem com a operação. Passados os primeiros momentos da crise, a falta de pessoas, de recursos, além dos gastos com medicamentos são desafios para a manutenção dos locais. Os problemas de infraestrutura, a dificuldade para encontrar os tutores dos animais perdidos e até as fake news estão entre os pontos com os quais as pessoas que doaram seu tempo para os animais enfrentam no cotidiano.
É a situação vivida pelos abrigos Scooby, no Shopping Iguatemi, e pelo hospital de campanha do Shopping Pontal. Fernando Antunes, coordenador do Santuário Animal em Eldorado do Sul e voluntário nos locais, explica que todo animam que passou pelos espaços foi catalogado. Recentemente tanto o abrigo Scooby quanto o hospital de campanha do Pontal receberam profissionais contratados pela prefeitura de Porto Alegre de forma de temporária. O Pontal também recebeu recursos médicos, como cilindros de oxigênio.
Apesar de diversos perfis no Instagram com fotos dos pets, muitos ainda não foram localizados pelos seus donos. Na avaliação de Antunes, seria importante uma ação maior, que reunisse todos os animais resgatados no Estado.
— Estamos esperando um lugar para centralizar, que poderia partir do governo do Estado ou do município, reunindo todas essas informações — explica.
São aproximadamente 4 mil animais que passaram pelo local. Todos eles contam com informações de onde vieram e as características básicas.
Lares temporários
O Abrigo Santos Dumont, no bairro Assunção, conta com aproximadamente 30 animais, mas já acolheu 118. Atualmente o local não recebe mais novos pets. Todos que estão lá já esperam um lar temporário, por aproximadamente três ou seis meses, ou aguardam os próprios donos.
— Nós recebíamos os veículos vindo do resgate. O animal passava por uma triagem, eram fotografados e mapeados. A maioria é de Eldorado, Humaitá, e vieram também do Pontal e do Gasômetro. Muitos foram até batizados — explica voluntária e parte da organização Abrigo Santos Dumont, Cássia Richter.
Todo a verba que o local recebeu até o momento veio da comunidade ou de voluntários, sem apoio do governo. Cássia também lembra que os animais pequenos são os primeiros a serem adotados ou ir para um lar temporário, já os maiores ficam no local.
Ela também acredita que seria importante o apoio do governo, seja municipal, estadual ou federal. Assim como os demais voluntários, Cássia reforça que a centralização das informações seria fundamental para localizar de maneira mais fácil os tutores.
Voluntários cansados
Canoas foi uma das principais cidades afetadas na Região Metropolitana. A situação dos abrigos é a mesma vivida nos outros locais. Além da falta de recursos e pouca infraestrutura, os voluntários que atuam estão cansados de tantas horas trabalhadas. Agora, outra situação vivenciada por eles é o combate às fake news.
— Surgiram várias pessoas falando que os cães fugiam, que somem, que não temos segurado eles. Mas isso não é verdade. Nós estamos trabalhando direto, os voluntários estão exaustos. Todos nós somos civis e não recebemos auxílio de ninguém — explica Roberta Merten, uma das coordenadoras do Abrigo Mathias Velho, que conta com dois espaços em Canoas.
Na avaliação de Roberta, a responsabilidade de prestar apoio aos locais é do poder público. Ela afirmou que o governo federal encaminhará R$ 180 mil para o município de Canoas, porém em um cálculo feito para o pagamento dos veterinários voluntários, muitos de fora do Estado, que estão atuando, a conta já chegaria em R$ 115 mil.
— A iniciativa privada está dando um show, mas o governo nada. Não quero que as pessoas aqui dentro seja responsabilizadas por uma culpa que não é delas. Não recebemos nada do governo estadual e nem do município — enfatiza.
Os dois locais, juntos, estão com aproximadamente 1,8 mil animais. Os espaços funcionam na rua liberdade n° 1315 e na Av. Getúlio Vargas n° 6880.
Atuação do governo do Estado
No dia 18 de maio o governo do Estado formalizou uma parceria com a organização não governamental (ONG) Grupo de Resposta a Animais em Desastres (Grad). A parceria prevê o trabalho conjunto de planejamento, gestão, monitoramento e execução das atividades desenvolvidas em resgates de animais e no acolhimento em abrigos nos municípios gaúchos, além da identificação e catalogação para localização de tutores ou o suporte nos procedimentos de adoção.
Procurada, a Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura informou, por meio de nota (veja o comunicado no fim da reportagem) que o governo está realizando um mapeamento, junto aos municípios, dos abrigos de animais existentes, a identificação dos bichos para conseguir localizar os tutores. O Grad informou à reportagem que nesta semana deve ser anunciadas as primeiras medidas de assistência aos abrigos e aos animais, mas que ainda não poderia adiantar as ações. A estimativa da ONG é de que 25 a 30 mil animais de todas as espécies tenham passado por abrigos de todo o Estado.
Nota do Governo do Estado
O Governo RS está realizando um mapeando, junto aos municípios, dos abrigos de animais existentes. O mapeamento está em andamento e o objetivo é obter um panorama dos pontos de acolhimento, identificar possíveis carências e permitir os devidos encaminhamentos pelo Estado, que prestará suporte aos municípios em termos de gestão. Após o levantamento dos locais, será realizado o levantamento de todos os animais que encontram-se nesses abrigos, com a identificação e inclusão dos dados e fotos em uma plataforma. O objetivo é garantir que o maior número de animais seja identificado e retorne aos seus tutores.