O mundo pode ultrapassar o limite de aquecimento de 1,5ºC em apenas sete anos se as emissões de CO2 (dióxido de carbono) continuarem a aumentar, alertou um grupo de cientistas nesta terça-feira (5), instando os países participantes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) a "agir agora". O estudo do Global Carbon Project, apresentado na COP28, em Dubai, adverte que as emissões de CO2 provenientes do carvão, gás ou petróleo atingirão um novo recorde em 2023.
A poluição por combustíveis fósseis aumentou 1,1% no ano passado, de acordo com a pesquisa deste consórcio internacional de cientistas. O estudo destaca que a China e a Índia se tornaram, respectivamente, o primeiro e o terceiro maiores emissores globais de gases de efeito estufa.
A cúpula da ONU busca traçar o futuro dos combustíveis fósseis, responsáveis pela maior parte dos gases de efeito estufa de origem humana. Um dos pontos mais controversos da reunião é como mencioná-los na declaração final. Os grandes poluidores tentam desencorajar apelos para um acordo que elimine gradualmente o uso intensivo de carvão.
Os cientistas acreditam que há 50% de risco de que o aquecimento ultrapasse até 2030 o limite de 1,5ºC em relação à era pré-industrial, estabelecido como limite no Acordo de Paris.
— Está se tornando cada vez mais urgente. Para manter uma chance de ficar abaixo de 1,5ºC, ou muito perto de 1,5ºC, precisamos agir agora — alertou Pierre Friedlingstein, autor principal do estudo e membro do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter.
"As coisas estão indo na direção errada"
No histórico Acordo de Paris de 2015, os países se comprometeram a limitar o aumento da temperatura a menos de 2ºC em relação à era pré-industrial, e se possível a 1,5ºC. O objetivo mais ambicioso de 1,5ºC tornou-se desde então uma prioridade, à medida que surgiam evidências de que um aquecimento maior poderia desencadear pontos de inflexão perigosos e irreversíveis.
Para respeitar esse limite, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) da ONU afirma que as emissões de CO2 precisam ser reduzidas pela metade nesta década. Mas alcançar esse objetivo está se tornando cada vez mais difícil à medida que as emissões continuam aumentando, segundo o Global Carbon Project.
Glen Peters, pesquisador principal do Centro CICERO para Pesquisa Climática Internacional, afirma que as emissões de dióxido de carbono agora estão 6% mais altas do que quando os países assinaram o Acordo de Paris.
— As coisas estão indo na direção errada — alertou.
E isso apesar do aumento promissor das energias renováveis. Mais de cem países expressaram no sábado (2), na COP28, sua vontade de triplicar suas capacidades de energias renováveis até 2030.
— Energia solar, veículos elétricos, baterias, tudo está crescendo rápido, o que é bom. Mas é apenas metade da história. A outra metade é reduzir as emissões dos combustíveis fósseis. E simplesmente não estamos fazendo o suficiente — afirmou.
Índia e China
Segundo a pesquisa, os combustíveis fósseis representaram 36,8 bilhões de toneladas de um total de 40,9 bilhões de toneladas de CO2 que devem ser emitidas este ano. Vários dos principais poluidores registraram este ano uma redução nas emissões de CO2, com uma diminuição de 3% nos Estados Unidos e 7,4% na União Europeia.
Mas a China, responsável por quase um terço das emissões globais, registrará um aumento de 4% nas emissões de CO2 provenientes de combustíveis fósseis neste ano, segundo o estudo. A pesquisa aponta especialmente para os setores de carvão, petróleo e gás, à medida que o país se recupera dos confinamentos e bloqueios impostos pela pandemia de covid-19.
Por outro lado, o aumento das emissões de CO2 na Índia em mais de 8% este ano significa que o país ultrapassou a União Europeia como o terceiro maior emissor de combustíveis fósseis, conforme os cientistas.
De acordo com Peters, do Centro CICERO, a crescente demanda por energia está superando a implantação de energias renováveis tanto na Índia quanto na China. As emissões do setor de aviação aumentaram 28% este ano, após a recuperação do período da pandemia de covid-19, destaca o estudo, publicado na revista Earth System Science Data.
Devido aos gases de efeito estufa gerados pela atividade humana, a superfície do planeta já se aqueceu em média 1,2 °C em relação à era pré-industrial, desencadeando ondas de calor, incêndios florestais, inundações e tempestades em todo o mundo. O ano de 2023 bateu recordes de temperatura, e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirmou que as temperaturas superaram em outubro os 1,4ºC em relação à era pré-industrial.