Referência em educação ambiental e na recuperação de animais recolhidos em operações realizadas por autoridades da área, o Mantenedouro São Braz, em Santa Maria, vai virar zoológico. Falta apenas uma vistoria derradeira da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), que deverá ocorrer até o início de dezembro, segundo o órgão, para que o local tenha autorização de uso e manejo da fauna silvestre e exótica que caracterize a mudança.
Criado em 1996, o mantenedouro já iniciou com a proposta que mantém até hoje, de receber animais maltratados pela mão humana, seja por meio de tráfico, cativeiros ilegais, atropelados ou até enviados pelos Correios. Com o tempo, o trabalho ganhou destaque na região e um novo endereço, na Estrada Municipal Espaço dos Ferreiros, zona rural da cidade.
Atualmente, estão acolhidos 700 animais de 120 espécies diferentes, que recebem visitas agendadas de escolas, passeios que precisam de guia e grupos acima de 20 pessoas (número inferior dispensa agendamento). O aumento das apreensões, muitas delas pelo 2º Batalhão Ambiental da Brigada Militar de Santa Maria, resultou em um necessário aumento da infraestrutura do local e a solicitação da própria Sema para que o lugar se tornasse zoológico.
Organização sem fins lucrativos como mantenedouro de fauna, o futuro Zoo São Braz poderá ampliar a visitação, que ocorre hoje em dia apenas em caráter didático, para o restante da comunidade. Outra mudança é sobre a reprodução de animais atendidos, hoje proibida. Com a alteração, a procriação, considerada essencial para participação de projetos de conservação, poderá reverter em investimento em pesquisas futuras.
— O que mantém hoje o espaço são as visitas através dos ingressos. Só assim conseguimos manter o corpo técnico (formado pelas médicas veterinárias Alice Passos, que também é zootecnista, e Daniele Gehres), os colaboradores e toda alimentação dos animais — conta um empolgado Santos de Jesus Braz, o idealizador e diretor do mantenedouro.
Homônimo do santo padroeiro das enfermidades da garganta, Braz teve pássaros que cantam como os primeiros animais atendidos. A coincidência foi apenas o primeiro sinal da importância que o mantenedouro teria na vida do fundador, que saiu de Tupaciretã, na região central do Estado, para morar em Santa Maria para servir ao Exército. E, por lá ficou.
— Com a educação ambiental na prática conseguimos conscientizar e levar uma bagagem aos educandos e educadores que aqui visitam nosso espaço. Nos passeios guiados, eles compartilham de todo contexto da história do animal que estava confinado. São os impactos sofridos quando se tornam vítimas do homem — se orgulha Braz.
O lugar é mantido pelas doações e ingressos, que custam R$ 25 para adultos e adolescentes e R$ 20 para crianças. Bebês têm acesso gratuito. O horário de funcionamento é das 9h às 12h e das 14h às 18h, em todos os dias da semana, incluindo feriados. Quem quiser ajudar, pode entrar em contato pelos telefones (55) 99138-0000 e (55) 99967-7707.
Os mamíferos, aves, répteis e demais animais cuidados no mantenedouro são devolvidos à vida livre, desde que tenham condições de voltar à natureza. Braz se diz realizado com o que chama de “missão de Deus”.
— Tenho a certeza do dever cumprido. O meu sentimento é o mais forte em poder transmitir todo esse dom às pessoas para que cuidem do nosso bem maior que é a nossa “Mãe Natureza” — diz Braz, que espera ver os filhos Rodrigo e Silvia seguindo seus passos.