As reações contra o aquecimento global são insuficientes "enquanto o mundo que nos acolhe está desmoronando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura", alertou o papa Francisco em um novo texto publicado nesta quarta-feira (4) e com o título Laudate Deum, na tradução do latim Louvado seja Deus.
Oito anos depois de sua encíclica sobre ecologia Laudato Si, e antes do início de uma nova rodada de negociações climáticas da ONU, na COP28, em Dubai, o sumo pontífice alertou sobre as "pessoas que tentaram zombar da constatação" dos estragos causados pelo aquecimento, que incluem secas, inundações e tufões, e pediu uma transição energética "vinculante" que possa ser "monitorada".
O grande evento anual sobre o clima acontecerá de 30 de novembro a 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, um grande produtor de hidrocarbonetos, cuja escolha foi criticada por ambientalistas. O jesuíta, de 86 anos, fez um firme apelo para que se aproveite esse encontro, de modo a obter "compromissos efetivos".
"Se houver um interesse sincero em tornar a COP28 histórica (...) cabe esperar apenas formas vinculantes de transição energética que tenham três características: que sejam eficientes, que sejam obrigatórias e que possam ser facilmente monitoradas", destaca Francisco em sua exortação apostólica Laudate Deum.
Francisco entra a fundo no debate sobre a mitigação das atividades causadoras da mudança climática - caminho defendido pelos ambientalistas - e a adaptação aos efeitos do aquecimento, uma estratégia "a posteriori" que muitos interesses industriais defendem para que não sejam prejudicados.
Francisco é partidário da mitigação, ao considerar que "a transição de que se necessita, para energias limpas como a eólica e a solar, abandonando os combustíveis fósseis, não tem a velocidade necessária". E adverte sobre o risco de se concentrar na adaptação aos efeitos já consumados da mudança climática: "corremos o risco de ficarmos presos na lógica de corrigir, colocar remendos, amarrar com arame, enquanto sob a superfície avança um processo de deterioração que continuamos alimentando. Supor que qualquer problema futuro poderá ser resolvido com novas intervenções técnicas é pragmatismo homicida, como chutar uma bola de neve para frente", argumenta.
"Com o passar do tempo, alerto que não temos reações suficientes enquanto o mundo que nos acolhe está desmoronando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura", insiste Francisco, ao mesmo tempo em que encoraja o multilateralismo "a partir de baixo", no qual "os lutadores dos mais diversos países" pressionem "os fatores de poder".
O papa escolheu uma data simbólica para publicar sua exortação apostólica, coincidindo com a dia de São Francisco de Assis, o santo que, segundo a tradição, falava com os animais, e a quem se refere no início do texto.