Parte dos municípios gaúchos seguiu a tendência global de temperaturas médias altas nos primeiros dias de julho. Na segunda-feira (10), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) informou que o período entre 4 e 7 foi o mais quente desde o início dos registros, em 1850. Os dados ainda são preliminares, segundo a entidade global.
Na terça-feira (4), a Terra teve temperatura média recorde de 17,08°C, que é considerado o dia com mais quente da história. Os dados são dos Centros Nacionais de Previsão Ambiental dos Estados Unidos e analisados pelo Instituto de Mudança Climática da Universidade do Maine. A máxima anterior, de 16,88°C, havia sido marcada no dia anterior.
Por isso, conforme o chefe de monitoramento climático da OMM, Omar Badour, "a semana de 4 a 7 de julho poderia ser considerada a mais quente já registrada".
Mesmo com o inverno, no Estado, 12 municípios tiveram temperaturas acima dos 17,1ºC no período na soma das médias dos quatro dias. Entre 4 e 7 de junho, Uruguaiana, na Fronteira Oeste, foi o local com a média mais alta no recorte: 19,8°C, segundo levantamento feito por GZH na base de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
No dia considerado o mais quente da história (17,08ºC em 4 de julho), Torres, no Litoral Norte, foi o município com a média diária mais alta no RS: 18,2°C. O levantamento no RS inclui 32 municípios que têm estações do instituto e dados públicos informados entre os dias 4 e 7, como indica o infográfico abaixo:
Porto Alegre, por exemplo, teve temperatura média mais alta que o recorde global em três dos quatros dias entre 4 e 7. Além disso, a primeira semana do inverno de 2023 foi a mais quente na Capital desde 1992, conforme levantamento feito por GZH.
Temperaturas médias diárias registradas em Porto Alegre entre 4 e 7 de julho deste ano:
- 04/07: 18,1°C
- 05/07: 17,3°C
- 06/07: 18,2°C
- 07/07: 17,1°C
Média do período: 17,7°C
*Fonte: Inmet
— Temos a questão do El Niño já formado, começando a ter seus efeitos sentidos no sul do Brasil, com maior frequência esse ingresso de vento de norte. A atmosfera está mais aquecida e, consequentemente, quando olhamos os valores médios, vemos que eles estão já acima da climatologia. Por isso, temos com maior frequência as temperaturas em elevação comparada aos períodos históricos antigos. Isso contribui para termos um inverno mais quente este ano — afirma Murilo Lopes, meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Já Douglas Lindemann, meteorologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), faz um resgate histórico para explicar o fato das altas temperaturas. Ele diz que é comum a flutuação das medições no decorrer das décadas: períodos mais quentes, outros mais frios que a média observada, fenômeno que é causado por processos naturais.
Porém, a partir da década de 1970, estudiosos têm observado a influência do homem no aumento da temperatura por conta da emissões de CO2 para a atmosfera, além de poluição e mudanças no uso e cobertura do solo, explica o especialista:
— Um exemplo é a intensificação do efeito estufa, o calor que é gerado pela radiação solar, que aquece a Terra e a atmosfera, que deveria ser "perdido" para o espaço, mas acaba ficando aqui. Então, isso começa, de certa forma, começa a produzir ondas de calor. O Atlântico Norte está muito mais quente que o normal. Isso impacta no maior aquecimento dos continentes também. Como o Hemisfério Norte tem uma porção de continentes maiores que o Hemisfério Sul, isso tem um peso maior também na média global.
Lindemann, porém, faz uma ressalva quanto às temperaturas observadas no Estado nos primeiros dias do inverno.
— Não podemos associar o calor que teve aqui no nosso inverno com uma mudança climática. Isso pode estar dentro da variabilidade natural. Mas a expectativa é que, em um cenário cada vez mais quente, essas condições de dias cada vez mais extremos, seja de calor ou de frio, se intensificam — acrescenta.
Segundo a OMM, o El Niño deve aumentar ainda mais o calor na superfície terrestre e nos mares nos próximos meses. Um relatório do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia, colaborador da OMM, mostrou que este junho ficou pouco mais de 0,5°C acima da média de 1991-2020, quebrando o recorde anterior de junho de 2019. No Atlântico Norte, citado por Lindemann, a temperatura subiu 1,5°C acima da média histórica, um aquecimento considerado “sem precedentes” pela OMM.
— El Niño é um fenômeno que acaba aumentando a temperatura média global junto com a ação antrópica (do homem). Podemos dizer que ondas de calor extremas na Europa, na América do Norte, algumas aqui no nosso país, é um somatório de uma causa natural mais a influência do homem nas condições climáticas — conclui o meteorologista da UFPel.
A OMM diz utilizar comparações da temperatura média global diária, a partir de observações combinadas de satélites e simulações de modelos computacionais, reunidas em conjuntos de dados chamados de reanálises.