Avaliadores da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) virão para o Rio Grande do Sul nas próximas semanas para conhecer de perto os dois territórios aspirantes a geoparques no Estado – Caçapava do Sul, no sudeste gaúcho, e a Quarta Colônia, na Região Central. Caso as certificações sejam concedidas, o Rio Grande do Sul terá o maior número em todo o Brasil de territórios com a titulação.
Para concorrer à certificação internacional, as comunidades das duas regiões elaboraram dossiês com o apoio da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). A documentação foi entregue em novembro de 2021. Depois da avaliação, a previsão é de que o reconhecimento seja confirmado (ou negado) até abril de 2023.
Atualmente, há 176 geoparques globais da Unesco em 46 países. No Brasil, há três – o Geoparque Seridó, no Rio Grande do Norte, o Geopark Araripe, no Ceará, e o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, localizado em sete municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A rede foi estabelecida em 2004, numa parceria entre a Unesco e a União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), visando distinguir áreas naturais com elevado valor geológico, nas quais esteja em prática uma estratégia de desenvolvimento sustentável, baseada na geologia e em outros valores naturais ou humanos.
No último dia das visitas, está marcada uma reunião de feedback, na qual os avaliadores já deverão dar suas impressões de forma preliminar. Esse retorno, contudo, não é oficial: depois da visita, os profissionais emitirão um relatório técnico a ser apreciado pelo Conselho Mundial de Geoparques, para, então, ser chancelado pela Unesco. Após concedido, o selo de geoparque é reavaliado a cada quatro anos.
Quarta Colônia
A visita à região da Quarta Colônia, que abrange nove municípios próximos a Santa Maria – Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins –, acontecerá de 23 a 28 de outubro. São aguardados um avaliador espanhol e outra uruguaia. A dupla terá a missão de conferir se tudo o que consta no dossiê é verdadeiro.
Segundo Jaciele Sell, que é coordenadora institucional do Projeto Estratégico Geoparques pela UFSM, o fato de a visita ter sido agendada já é uma sinalização de que o que consta no dossiê está de acordo com o esperado de um geoparque.
— A gente está bem otimista, porque na autoavaliação que precisávamos fazer no dossiê fomos bastante modestos nas notas que nos demos e, ainda assim, fizemos uma boa pontuação. Não colocamos notas máximas, por exemplo, porque sempre há margem para melhorias. Além disso, as consultas que eles nos fizeram antes de confirmarem a visita foram bem pontuais e conseguimos responder de forma muito tranquila — comenta Jaciele.
Durante a visita, a ideia é apresentar aos avaliadores os principais pontos que dizem respeito à paleontologia da Quarta Colônia, à questão cultural e ao patrimônio natural, como as paisagens, as cachoeiras, a mata atlântica e também a estrutura e a organização que já existe para a infraestrutura turística na região no território. As visitas serão técnicas e envolverão um roteiro extenso, com atividades das 8h às 22h, para que os profissionais deem sugestões e apontem eventuais fragilidades.
A expectativa, conforme Jaciele, é de que a certificação aumente, intensifique e mantenha movimentos e avanços no território. Entre os impactos esperados, está a ampliação do número de visitantes, uma vez que a titulação é um selo de qualidade que gera um atrativo turístico, mas também uma maior segurança da conservação dos ambientes.
— Esse selo deve trazer mais serviços de turismo para a região, o que gera renda para a comunidade e impacta no desenvolvimento local, e também nos dá mais respaldo e segurança para a conservação dos nossos sítios paleontológicos, já que encontramos quase que semanalmente fósseis por aqui — destaca a coordenadora, que acredita que a revisão do selo a cada quatro anos também ajuda a manter os municípios investindo no território.
Caçapava do Sul
A visita à região de Caçapava do Sul acontecerá de 6 a 10 de novembro. São aguardados um avaliador espanhol e outro japonês. Assim como na Quarta Colônia, os profissionais checarão se todas as informações que constam no dossiê são verdadeiras.
Diretor do campus de Caçapava do Sul da Unipampa, José Rojas ressalta que a certificação como geoparque é uma forma de preservar o patrimônio histórico, cultural e geológico da região.
— Como Caçapava do Sul já foi a maior produtora de cobre do Brasil e é a capital gaúcha da geodiversidade, o município ganha com a preservação da sua natureza e com o desenvolvimento sustentável e econômico, porque se torna um geoparque, suas atrações geológicas ganham impacto mundial, já que muitas pessoas acabam fazendo turismo nesses territórios — salienta Rojas.
De acordo com o diretor, a comunidade local espera que o selo de qualidade permita a obtenção de recursos externos não só para a preservação, mas para o turismo, que, hoje, já existe no município – muita gente procura Caçapava do Sul para praticar esportes de aventura, por exemplo.
Durante a visita, os avaliadores passarão por pontos como o Forte Dom Pedro II, a Pedra do Segredo e os geossítios Guaritas e Minas do Camaquã. A agenda é intensiva, com programas marcados das 7h às 20h30min, todos os dias.
— Nessas visitas, normalmente não se consegue mostrar tudo, mas vamos procurar mostrar a diversidade do território para eles — observa Rojas.
O que é um geoparque?
Geoparque é um território com limites definidos e com uma estratégia de desenvolvimento sustentável. É um local com relevância geológica internacional, incluindo também bens naturais e culturais, que é promovido com foco na conservação da natureza, na educação para a sustentabilidade e no desenvolvimento econômico por meio do turismo. Ampliando a conscientização sobre a importância destes locais, os geoparques fortalecem a identificação das pessoas com estes territórios e estimulam novas oportunidades de desenvolvimento econômico sustentável.
Além de reafirmar o compromisso da promoção do desenvolvimento local sustentável, os dossiês enviados são compostos de autoavaliações de elementos, como a geologia, a educação, a informação e o desenvolvimento local sustentável. A partir das informações indicadas nos relatórios que a Unesco, em uma visita presencial, avalia aspectos e características que justificam o título de geoparque.