Um fenômeno vindo do Oceano Atlântico chegou ao litoral sul gaúcho nos últimos dias. Desde a manhã de segunda-feira (29), milhares de moluscos são vistos na orla das praias do Hermenegildo e Barra do Chuí, em Santa Vitória do Palmar.
Nesta terça-feira (30), pesquisadores do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) foram até os locais para recolher amostras e verificar a situação. A principal suspeita é de que a aparição dos moluscos tenha relação com o fenômeno da maré vermelha, que ocorre no litoral do Uruguai. Esse evento acontece quando há a presença exagerada de algas que liberam toxinas em um determinado ambiente aquático, fazendo com que os animais chamados de "filtradores", como os moluscos, sejam atingidos.
Conforme o professor André Colling, da Furg, a quantidade de moluscos encontrada sem vida foi muito menor do que a que se esperava.
— As imagens que foram divulgadas sugeriam que a mortalidade era muito grande. No entanto, encontramos apenas uma pequena porção já sem vida. A maior parte estava viva. Caso o fenômeno da maré vermelha estivesse atingindo de forma mais forte a nossa região, teríamos problemas maiores — analisa o professor.
Ouça a entrevista completa com André Colling
Assim que os primeiros moluscos foram vistos na areia, o Departamento de Controle Urbanístico e Ambiental (DCUA) do município foi acionado. Conforme André Terra, responsável pelo setor, foram contabilizados cerca de 20 quilômetros de extensão das praias contendo registros dos moluscos.
Prudência
Na última semana, o governo do Uruguai acenou com um alerta sobre os casos para a comunidade e proibiu a extração dos mariscos em seu território. Para o pesquisador, no entanto, a realidade no Rio Grande do Sul pode ser vista com mais cautela:
— É importante ser muito prudente neste momento. Aqui, no sul do Estado, não há um costume de consumo dos mariscos para alimentação, diferente da costa uruguaia. Ainda assim, é importante o alerta para que se evitem esses organismos de forma específica. Já peixes, camarões e outros animais marinhos não possuem problema para consumo.
As praias não chegaram a ser isoladas. Mesmo assim, o principal alerta aos moradores, turistas e curiosos que passarem pelo local é evitar a extração destes moluscos da orla.
— Eles são moluscos muito pequenos, que não costumam aparecer na nossa praia. A nossa recomendação é que não coletem e não consumam esses animais. Estamos realizando testes para saber se eles podem ser consumidos — explica André Terra.
O material coletado pelos pesquisadores da Furg inclui organismos vivos e amostras de água da região. A análise deve ser concluída na segunda quinzena de dezembro.