Quais os riscos de acontecerem erupções vulcânicas no Brasil? Por que a lava sai somente em determinados locais do planeta? Qual o impacto de uma atividade vulcânica no ecossistema da Terra? Eventos como os dessa semana nas Ilhas Canárias, território espanhol que fica na costa da África, inspiram uma série de dúvidas sobre o assunto. Nesta sexta-feira (24), a vulcanóloga e astrônoma brasileira da Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa) Rosaly Lopes falou ao programa Timeline da Rádio Gaúcha e esclareceu algumas delas.
Rosaly é uma autoridade em vulcanologia, sendo inclusive mencionada no Guinness Book como a maior descobridora de vulcões ativos, por ter catalogado 71 desses acidentes geográficos da lua de Io, de Júpiter. Apesar de ter como foco o Sistema Solar, ela confessa ser uma apaixonada por vulcões e diz que até nas férias vai atrás de algum que esteja ativo para contemplar o espetáculo.
— Esse ano eu fui à Islândia, em julho, porque tem uma erupção vulcânica que ainda está ativa, muito interessante. Mas agora a gente tem esse vulcão na ilha de La Palma, que entrou em erupção e está destruindo casas e tudo. É uma atividade muito bonita, mas também destrói. No caso da Islândia, não tem casas por perto para ele destruir — explica.
A especialista explicou que um vulcão é um local onde o magma, substância em estado de plasma que fica entre a crosta e o núcleo do nosso planeta, pode sair. Esta abertura pode ser em formato de montanha, pois a lava (nome do magma após sair do interior da Terra) vai se acumulando no entorno desses locais, mas não necessariamente, podendo haver casos de fendas sem essas elevações. Rosely lembra um caso curioso onde sobre esses aspecto dos vulcões durante a entrevista.
— Na década de 1940, teve um vulcão no México chamado Paricutín, que começou como um buraco. Era uma área que um fazendeiro estava arando e foi crescendo e virou um vulcão. De repente abriu um buraco, saiu uns gases e aí começou a explodir — conta.
Pode ter uma erupção no Brasil?
Uma características dos vulcões é que a maioria deles se encontra nas bordas de placas tectônicas. O Brasil é um país privilegiado nesse sentido e tem todo o seu território sobre a placa sul-americana, o que torna praticamente inexistente a chance de uma erupção no país. Rosely salienta que há exceções. Por exemplo, no Havaí, onde há atividade vulcânica mesmo sobre uma placa, mas ressalta que é uma situação rara e que há muito tempo não acontece nada parecido em nosso país:
— No Brasil não há erupções vulcânicas há muitos anos, mas teve no passado. Inclusive tem os famosos basaltos do Paraná, que são estudados por muitos vulcanólogos, mas são muito antigos, saíram a mais de um bilhão de anos. (...) Os vulcões mais recentes do Brasil, isso em tempos pré-históricos, foram em Fernando de Noronha, onde ainda se vê lavas antigas.
Por que o vulcão explode?
Esse é um evento que nem sempre acontece em erupções. É preciso reunir algumas características para serem observadas atividades deste tipo, como um magma com viscosidade elevada e com uma grande quantidade de gases no seu interior. Nesses casos, as explosões ocorrem quando essa substância começa a chegar perto da superfície e, com a perda de pressão, os gases se expandem. Já os chafarizes de lava são observados quando há baixa viscosidade e muitos gases, que, ao serem liberados da pressão da crosta terrestre, carregam o material incandescente para os céus.
— É como se fosse você abrir uma garrafa de champanhe — compara Rosely, que complementa informações sobre vulcões de nosso planeta:
— A maioria dos vulcões na Terra estão embaixo do mar. Mas nos continentes, considerados ativos, são por volta de uns 600. Não é que eles estejam ativos o tempo todo, mas são considerados ativos. Tem muito vulcão por aí e todo o mês, em geral, têm 20 ou 30 vulcões em erupção, mas a maioria não causa grandes danos e não vai para as notícias.
Como uma erupção influencia no clima?
Sempre que há uma erupção, espalham-se na atmosfera gases e partículas que estavam confinadas no interior do planeta. Dependendo da quantidade desse material, há possibilidade de um dos efeitos, especialmente em um evento de grandes proporções, seja a queda temperatura da Terra, geralmente entre 0,5ºC e 1°C. A cientista explica, porém, que a mudança não é algo permanente.
— Nos últimos tempos, a maior alteração climática foi (causada) pelo vulcão de Tambora, na Indonésia, que explodiu em 1815. O ano de 1816 foi chamado, no hemisfério norte, de um ano sem verão. Eles chamaram porque o tempo foi muito feio.
Uma curiosidade a respeito desta erupção que Rosaly contou foi que ele deu origem a um dos grande clássicos da literatura mundial:
— Tem uma história muito interessante, porque neste ano sem verão, três amigos da Inglaterra foram para a Suíça de férias e eles queriam andar pelas montanhas, mas o tempo estava ruim. Então, eles resolveram que cada um ia escrever uma história de horror para ver quem escrevia a melhor. Quem escreveu a melhor foi a Mary Shelley, que escreveu o Frankenstein. Esse livro foi graças a uma erupção vulcânica.