O Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), divisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) responsável pelo combate a incêndios florestais, passa a ter um novo comando militar. A chefia do órgão será assumida por Ricardo Vianna Barreto, do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.
Trata-se do terceiro comando da divisão em menos de dois meses. Até agosto, o Prevfogo era comandado por Gabriel Constantino Zacharias, analista ambiental e servidor de carreira do Ibama, tendo passado muitos anos no posto. Em setembro, a divisão foi assumida por outro funcionário do órgão, José Carlos Mendes de Morais. Com apenas um mês, porém, Morais pediu exoneração na semana passada.
O Ibama não detalhou os motivos de sua saída. Em mensagem enviada a colegas de trabalho, Morais declarou apenas que saia por "motivo de força maior".
Dentro do Ibama, as informações dão conta de que as saídas de ambos estariam atreladas à discordância de que o órgão ambiental passasse a usar retardantes químicos em ações de combate a incêndio. O produto é defendido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que fez divulgação do material recebido por meio de "doação" de mil litros do produto por uma empresa.
Salles quer comprar, em regime de urgência e sem licitação, 20 mil litros do retardante, o qual apresenta uma série de restrições por causa de riscos à saúde e ao meio ambiente. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu à Corte que interrompa a aquisição e o uso do produto, enquanto não houver esclarecimentos sobre seus impactos.
A nomeação de Ricardo Vianna Barreto, apesar de ser assinada pelo presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, foi articulada pelo diretor de Proteção Ambiental do Ibama e coronel da Polícia Militar de São Paulo, Olímpio Ferreira Magalhães. Olímpio também chegou ao posto por escolha de Ricardo Salles.
O Prevfogo, principal agente de combate a incêndios do governo, sofre com os constantes cortes de recursos pelo governo federal. O orçamento destinado para as ações de monitoramento ambiental, prevenção e controle de incêndios florestais do Ibama, que foi de R$ 48 milhões no ano passado, caiu para R$ 38 milhões neste ano e, em 2021, foi mais uma vez reduzido, com previsão de ter apenas R$ 29 milhões para enfrentar as queimadas em todo o país.
A troca de comando na área ocorre no momento em que o Pantanal sofre com níveis recordes de incêndios, com mais de um quarto do bioma perdido pelo fogo. Em apenas 15 dias, o volume de focos de incêndio registrado neste mês de outubro (2.537 ocorrências) já supera os 31 dias de outubro do ano passado (2.430 focos).
Da mesma forma que setembro foi o pior mês de queimadas de toda a série histórica medida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), medida desde 1998, outubro deve seguir pelo mesmo caminho. Este já é o mês de outubro com maior número de focos dos últimos 18 anos no Pantanal e deverá bater o recorde histórico nos próximos dias. Em outubro de 2002, foram registrados 2.761 focos de incêndio no bioma.