A Polícia Civil do Pará indiciou quatro brigadistas pelos incêndios que atingiram a Área de Proteção Ambiental (APP) de Alter do Chão, no Oeste do Estado, em setembro deste ano. O advogado deles diz que a conclusão é "precipitada". As informações são do portal G1.
Daniel Gutierrez Govino, João Victor Pereira Romano, Marcelo Aron Cwerner e Gustavo de Almeida Fernandes, chegaram a ser presos em novembro. O outro apontado pelo inquérito policial como responsável é Ronnis Repolho Blair, que foi treinado pela brigada, mas não a integra.
Relatório do delegado Waldir Freire Cardoso, obtido pelo G1, diz que várias linhas investigativas foram apontadas, inclusive a participação de grileiros de terra ou de incêndios para limpeza de terrenos que teriam fugido ao controle.
Contudo, segundo Cardoso, que assumiu o inquérito após determinação do governado do Pará, os indícios "demonstram a participação ativa dos referidos brigadistas nos eventos" e que havia "o interesse destes em disseminar registros fotográficos em âmbito nacional e internacional com a finalidade de promoção da tragédia e em benefício de auferirem vantagens financeiras através de vultosas doações em dinheiro, por parte de pessoas de boa fé de todo o globo."
Os cinco indiciados vão responder por dano a unidades de conservação e áreas de proteção ambiental (pena de um a cinco anos de prisão), concurso de pessoas (que pode agravar a pena) e associação criminosa (um a três anos de prisão).
O advogado dos quatro brigadistas, Fernando da Nóbrega Cunha, classificou a conclusão como "precipitada" e negou a culpa de seus clientes.
— Me parece, com todo o respeito, açodada e precipitada essa conclusão do inquérito e o indiciamento de pessoas inocentes — disse Cunha.
Em nota, a defesa afirmou ainda que as conclusões da polícia são baseadas "numa ilação extraída de depoimentos meramente especulativos" e que "sequer existe uma perícia técnica atestando se o incêndio teve eventualmente origem criminosa".
O G1 procurou Ronnis Blair, que ainda vai conversar com seus familiares e só depois decidirá se vai se pronunciar ou não sobre o seu indiciamento.
O inquérito policial foi enviado Ministério Público do Estado do Pará que, por meio de sua assessoria, informou ao G1 que está em recesso de fim de ano e que só retoma as atividades no dia a 7 de janeiro. Durante o período do recesso, os prazos ficam suspensos.
Caso polêmico
A investigação sobre a responsabilidade do incêndio no Pará foi alvo de questionamentos após a detenção dos brigadistas, em 26 de novembro – eles foram soltos dois dias depois. O governo do Estado chegou a trocar o delegado responsável pelo caso.
Além disso, após a prisão, o Ministério Público Federal, que desde 2015 apura a grilagem de terra em Alter do Chão, pediu acesso ao inquérito e afirmou que investigações apontavam "assédio de grileiros, ocupação desordenada e para a especulação imobiliária como causas da degradação ambiental" na região.