No começo de setembro, manchas de óleo começaram a aparecer em praias do Nordeste. Os primeiros relatos da presença de óleo na região foram confirmados no dia 2 de setembro, em Pernambuco. Até agora, porém, a origem do óleo permanece um mistério. De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), 138 localidades em nove Estados já foram atingidas. Em seu último boletim, o instituto contabiliza 10 animais mortos por contato com o óleo.
Há poucas informações sobre como o óleo se espalhou e quem é o responsável pelo problema. As três principais hipóteses da Petrobras são que um navio tenha afundado, que tenha ocorrido um acidente em passagem de óleo ou que tenha havido um despejo criminoso.
A Marinha do Brasil abriu um inquérito para investigar a ocorrência, que classificou como "inédita", já que "atinge grande parte de nosso litoral". A Polícia Federal (PF) vem atuando na área criminal e o Ibama coordena os trabalhos de recolhimento das borras de petróleo.
Confira o que se sabe até agora sobre o problema.
Quantos locais já foram atingidos?
De acordo com o Ibama, já são 138 localidades atingidas em nove Estados do Nordeste, em uma área que abrange 62 municípios.
Foi encontrado óleo em praias turísticas como Porto de Galinhas, em Ipojuca (PE); Boa Viagem, em Recife (PE); Pipa, em Tibau do Sul (RN); Tambaba e Praia do Amor, em Conde (PB); entre outras. Manchas também foram registradas na praia de Mangue Seco, no município de Jandaíra, que fica a 210 quilômetros de Salvador, na divisa com Sergipe — o local é um dos principais destinos turísticos do litoral norte da Bahia e foi imortalizada pelo escritor baiano Jorge Amado ao servir de cenário para o romance Tieta do Agreste.
Para onde esse óleo está se dirigindo?
A tendência é que o óleo siga para o norte do país, sem descer rumo ao Sudeste e ao Sul. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, explicou que o movimento do óleo tem sido de ida e volta, do mar para a costa.
Que problemas esse óleo causa?
A fauna está sendo afetada pela presença do óleo. O petróleo foi encontrado em nove tartarugas, seis delas encontradas mortas, e em uma ave, também morta.
Segundo o Ibama, não há evidências de contaminação de peixes e crustáceos, mas a avaliação da qualidade do pescado capturado nas áreas afetadas para fins de consumo humano é de competência do órgão de vigilância sanitária.
— A gente orienta aos banhistas que não tenham contato com esse óleo e que, se o encontrarem em alguma praia, façam contato com os órgãos públicos, indicando o local em que foi encontrado — disse a coordenadora geral de Emergências Ambientais do Ibama, Fernanda Pirillo.
E qual o impacto desse desastre?
Segundo Fernanda Pirillo, esse tipo de acidente nunca tinha acontecido aqui no Brasil.
É a primeira vez que a gente está vendo um acidente, sem poluidor conhecido, atingir tantos Estados
FERNANDA PIRILLO
coordenadora geral de Emergências Ambientais do Ibama
— Normalmente, as manchas de origem desconhecida, que é o caso dessa, são de pequeno impacto e abrangem só um Estado. É a primeira vez que a gente está vendo um acidente, sem poluidor conhecido, atingir tantos Estados — explicou ela.
— É um trabalho de enxugar gelo. Nossas equipes retiram o óleo da areia e o mar traz novas levas. É algo nunca visto por aqui — afirma o presidente da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), Gilvan Dias.
Na quinta-feira (3), o petróleo atingiu o litoral da Bahia, onde o Projeto Tamar atua na preservação de espécies marinhas ameaçadas de extinção. Além do impacto ambiental, praias consideradas berçário de tartarugas marinhas no litoral baiano estão entre os destinos mais procurados por turistas, e a chegada do óleo poderá representar um baque econômico para a região no momento em que inicia a alta estação.
O que deve fazer quem for para uma das praias atingidas?
O Ibama recomenda que se evite qualquer contato ou manuseio do material e que o banhista comunique a ocorrência imediatamente ao órgão ambiental local. Em caso de contato com o óleo, a recomendação é que a pessoa passe primeiro gelo ou óleo de cozinha, antes de lavar com água e sabão.
Há orientação para banhistas e pescadores não entrarem em contato com o óleo e que, se identificarem o material, notifiquem a prefeitura do município atingido. Caso cidadãos encontrem animais com óleo, devem acionar órgãos ambientais. Esses animais não devem ser lavados e devolvidos ao mar.
Quais os riscos para a saúde humana?
A dermatologista Alessandra Romiti, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, disse à reportagem da Folha de S.Paulo que o contato de banhistas e pescadores com o óleo pode causar irritações na pele e alergias.
Os dois principais riscos para a pele são a reação alérgica, que pode gerar coceira e vermelhidão, e a formação de acnes
ALESSANDRA ROMITI
dermatologista
— Os dois principais riscos para a pele são a reação alérgica, que pode gerar coceira e vermelhidão, e a formação de acnes de oclusão, ou seja, acnes geradas pelo excesso de óleo na pele, similar a quando se passa produtos oleosos demais, como os protetores solares.
Alessandra destaca que se deve tomar cuidado com a região dos olhos, nariz e boca. Ela orienta que, em caso de contato com o material e eventual irritação na pele, um dermatologista seja procurado para iniciar o tratamento, que varia do uso de pomadas e sabonetes específicos à prescrição de remédios de ingestão oral.
O que as análises feitas até o momento indicam?
Segundo o Ibama, a análise das amostras do óleo feitas pela Petrobras e pela Marinha revelou que a substância é petróleo e que não é de origem brasileira. As investigações apontam que o petróleo que está poluindo todas as praias é o mesmo. Trata-se de petróleo cru, ou seja, não se origina de nenhum derivado de óleo, como gasolina e outros. A Petrobras afirma que o material encontrado não é produzido e nem comercializado pela empresa.
Como esse óleo veio parar no Brasil?
A hipótese inicial é que o produto tenha sido descartado de forma ilegal em alto-mar há mais de um mês. Em seguida, a principal suspeita passou a ser de que tenha havido vazamento de petróleo de navio estrangeiro. A principal hipótese, depois, passou a ser a de que um navio estrangeiro tenha descartado de forma irregular o óleo ou que tenha havido vazamento. Uma imagem de satélite que registra um navio suspeito na costa pernambucana no início de setembro pode ajudar a desvendar a origem das manchas de óleo.
É um volume que não está sendo constante. Se fosse de um navio que tivesse afundado, estaria saindo ainda óleo. Parece que criminosamente algo foi despejado lá
JAIR BOLSONARO
presidente do Brasil
Conforme a Marinha, entre as hipóteses investigadas no momento estão naufrágio ou derramamento acidental do petróleo. Por outro lado, são agora consideradas remotas as possibilidades de vazamento de petróleo do subsolo ou lavagem de tanque em navios, diante do volume de óleo recolhido nas praias atingidas.
Qual a origem, então?
O presidente Jair Bolsonaro disse na terça-feira (8) que as manchas de petróleo que atingem o litoral do Nordeste desde o mês passado podem ter sido despejadas "criminosamente".
— É um volume que não está sendo constante. Se fosse de um navio que tivesse afundado, estaria saindo ainda óleo. Parece que criminosamente algo foi despejado lá — disse, ao deixar o Palácio da Alvorada, após reunião com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
O que está sendo feito para resolver o problema?
O Ibama pediu ajuda da Petrobras para limpar as praias atingidas e a empresa deve destacar cem funcionários para a função. Mais de 100 toneladas de borra de petróleo foram recolhidas no litoral nordestino desde o início de setembro.
Em ato publicado em edição extra do Diário Oficial da União em 5 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro determinou que a Polícia Federal, o comando da Marinha e o Ministério do Meio Ambiente investiguem as causas e identifiquem os responsáveis pelas manchas de óleo que foram encontradas em diversas praias do Nordeste nas últimas semanas.
Os responsáveis estão sujeitos a sanções?
Mesmo sendo de origem estrangeira, os responsáveis estão sujeitos a multas de até R$ 50 milhões, em conformidade com a Lei de Crimes Ambientais.
O presidente Jair Bolsonaro não descartou, ainda, a possibilidade de que o Brasil peça indenização caso seja detectada a origem do óleo, mas disse que isso está sendo tratado pelo Ministério do Meio Ambiente.
Até o momento, 133 locais foram atingidos pelas manchas de óleo. Veja abaixo a lista completa e a classificação de cada local.
Classificação das praias atingidas, segundo o Ministério do Meio Ambiente
- Em limpeza: 11 praias estão em processo de limpeza, segundo dados atualizados pelo Ministério do Meio Ambiente.
- Não observado: os dados atualizados classificam 48 locais em que não foram observados vestígios do óleo, o que quer dizer que a limpeza se deu de forma natural.
- Oleadas com manchas: seis locais estão classificados como oleados com manchas, o que indica que a porcentagem da cobertura de óleo no local analisado varia de 11% a 50%.
- Oleadas com vestígios/esparsos: a lista indica que 68 locais contêm óleo esparso e vestígios de óleo, com cobertura que pode ser inferior a 1%, chegando a, no máximo, 10%.
* Com informações de agências.