De folga em Esmeralda, município localizado no nordeste do Rio Grande do Sul, o casal de brigadianos Vagner Alexandre de Souza e Daniela Vieira de Souza descansava no feriado de 20 de Setembro quando recebeu uma ligação que os fez vestir a farda. Na tarde de sexta, um morador da zona rural havia localizado um filhote de felino, parecido com um gato, só que de aparência mais selvagem.
Como a viatura mais próxima circulava em Pinhal da Serra, a 23 quilômetros dali, o sargento e a soldado decidiram atender a ocorrência. Se dirigiram até a residência de um homem que alegava ter encontrado o animal depois de alguns cães terem matado a mãe, uma fêmea de jaguatirica.
— Um homem ligou dizendo que cães mataram a jaguatirica. Essa é a versão dele — confirma o sargento Alexandre.
A Brigada Militar de Esmeralda vai registrar ocorrência na Polícia Civil de Vacaria, que atende a região, para apurar o caso. Nem o corpo da fêmea, nem os cachorros que a teriam matado foram localizados. Existe a suspeita de caça de animal silvestre, crime muito comum em zonas rurais e que prevê detenção de seis meses a um ano, além de multa.
Encontrado desemparado em uma caixa de papelão, o filhote foi abrigado por Alexandre e Daniela de sexta para sábado (21). Depois, encaminhado à instituição Amigo do Bicho, também em Vacaria, que resgata animais abandonados. Acostumado com os gatos que mantém no lar, o casal foi orientado a não dar afagos na jaguatirica, já que o contato pode fazer com que o animal perca o medo de humanos, sendo domesticado e impedido de voltar à vida selvagem.
Em 10 anos na Brigada Militar, é a primeira vez que Alexandre atende a uma ocorrência desse tipo. Ainda que resista à tentação de associar o felino a um gato, o contato com seus próprios bichanos o fez perceber que o pequeno estava bem alimentado.
— Ele está bem, está tranquilo. Eu não toco nele por orientação da ONG. Mas ele está bem esperto, com a barriga "cheinha". É bem fofinho — reconhece Alexandre, que se deslocou com a viatura da Brigada Militar para entregar o felino à Amigo do Bicho.
Em 16 anos de atividade, a associação que mantém parceria com a prefeitura de Vacaria acostumou-se a servir de abrigo temporário a animais silvestres como veados, cervos, macacos-prego, tucanos, entre outros. Dali, são encaminhados a um hospital veterinário vinculado à uma universidade particular de Lages, em Santa Catarina.
A legislação determina que esses animais não podem ser mantidos em cativeiro. No caso de desamparo, deve-se entrar em contato com o Corpo de Bombeiros ou a Polícia Militar Ambiental.