Poucos moradores de São José dos Ausentes, nos Campos de Cima da Serra, sabiam do alerta de chance de neve na madrugada desta quarta-feira (14), emitido pela Somar Meteorologia. Mas quando a temperatura é baixa ao ponto de dificultar o movimento dos dedos da mãos, a esperança é a mesma.
— A gente sempre fica na expectativa de neve, né? Se é para passar frio, que seja frio com neve — disse, bem-humorada, a técnica em edificações Taliene Schuch, 25 anos, protegida por um grosso casaco enquanto caminhava no centro da cidade, na tarde desta terça (13).
A Somar Meteorologia aponta que há possibilidade de neve e de chuva congelada em São José dos Ausentes (previsão de -2ºC), Vacaria (-2ºC), Cambará do Sul (-1ºC) entre meia-noite e 1h da manhã desta quarta-feira. É possível até 0,3 cm de neve acumulada no chão.
— Para ter neve, é preciso ter baixa temperatura, de até 3ºC na superfície, e precipitação, que ocorre na forma de flocos de neve — diz o meteorologista Franco Cassol, da Somar.
Na Avenida Ismênia Ribeiro Velho, a principal da cidade, pedestres optavam por caminhar no lado da calçada banhado pelo sol na tarde desta terça-feira (13). O vento castigava os cabelos. Por volta das 18h, o termômetro na entrada de São José dos Ausentes marcava 1ºC.
Táticas de quem está acostumado com o frio
O entardecer ostentava céu limpo e ensolarado, mas o início da noite teve uma reviravolta: pesadas nuvens escuras tomaram conta. Andar na rua era exercício de perseverança: os dentes tremiam no esforço do corpo em gerar calor espontâneo.
A secretária municipal de turismo, Aline Ramos, informou que a ocupação dos 490 leitos da rede hoteleira de São José dos Ausentes está baixa.
— É que hoje é terça-feira, e a expectativa não é de muita neve. No fim de semana, a cidade fica bem cheia — afirma.
Moradores de São José dos Ausentes, acostumados ao frio, adotam cotidianamente táticas para esquentar-se: se aproximar do fogão à lenha ou da fogueira, tomar chimarrão atrás de chimarrão e jantar uma sopa fumegante.
Há, inclusive, um conselho dos mais sábios aos mais novos: coloque a mão no fogo. A frase é sábia, e não traiçoeira, porque pede para o ouvinte combater o frio perto das chamas. Era desta forma que o empresário Dalvone Borges Velho, 62 anos, bisneto de um dos colonizadores da região, se aquecia.
— Hoje de manhã estava gelado, acordei com frio porque as cobertas encurtaram. Já vi muitas neves desde criança, sabe. Com esse céu limpo, hoje não deve nevar, precisa de tempo fechado e úmido. Mas amanhã de manhã vai ter geada, o vento para e o chão branqueia — previu, antes da reviravolta no céu no crepúsculo.
