Quem estava na manhã de sábado (29) na praia do Mar Grosso, em Laguna, Santa Catarina, presenciou a morte de mais um indivíduo da espécie Tursiops truncatus, conhecido como boto pescador. O animal estava com diversos ferimentos pelo corpo e foi encontrado na areia já sem vida, sendo recolhido pela equipe do Programa de Monitoramento de Praias da Udesc.
De acordo com os pesquisadores, o animal era uma fêmea com 1,83 metro de tamanho e, assim como a maior parte dos animais que morreram ao longo do ano na região, tinha poucs idade. As causas do óbito ainda são desconhecidas, por isso, o cadáver deve passar por uma necrópsia para identificar detalhes dos seus ferimentos.
A mortalidade do animal cresceu muito durante o ano e preocupa a comunidade de Laguna. Esse foi o 16º boto pescador encontrado sem vida nas areias da região, recorde em pelo menos 10 anos. O número representa mais que o triplo do ano passado, quando cinco mortes foram registradas, e mais que o dobro de 2016, que liderava a estatística negativa com sete óbitos.
Os indivíduos da espécie Tursiops truncatus são reconhecidos pelo relacionamento colaborativo com os humanos, especialmente em Laguna. Os botos interagem e conduzem o cardume de tainhas até as redes dos pescadores, que jogam a tarrafa e fazem a captura.
Causas da alta mortalidade
A maior parte das mortes de botos em Laguna é causada pelo uso indevido de redes de pesca de emalhar, geralmente usadas para capturar bagres. Há relatos de pescadores que atravessam o equipamento de uma ponta até a outra nas margens do rio Tubarão, trancando a passagem dos animais. Muitos botos caem na armadilha e não conseguem se desvencilhar.
Mas há outra causa que está matando os botos pescadores: a poluição do Complexo Lagunar. Poluentes como restos de atividades industriais e agrotóxicos são despejados na região, causando reações químicas na água. Como os botos vivem em áreas de alta produtividade primária, como desembocadores de rios, acabam afetados pelos poluentes.
A estimativa do professor de Engenharia de Pesca e Biologia Marinha, Pedro Volkmer de Castilho, é que 25% os botos locais tenham lesão de pele, algo raro e que ocorre apenas com os animais de Laguna. A mais comum e perigosa é a lobomicose, uma doença fúngica de pele que amplia o número de infecções do animal e se prolifera à medida em que o bicho perde a capacidade imunológica. Além da cura ser lenta e difícil, a doença também é transmissível.
– O que acaba matando é a rede, mas a gente não sabe se o animal estava surdo, com infecções ou outras doenças. Muitos que morreram emalhados tinham outros problemas que vão destruindo as capacidades motoras – explica.