Assim como é comum ver cães e gatos se coçando diante de qualquer sinal de pulgas, os quatis também se esfregam para afastar mosquitos e carrapatos, dizem biólogos. A novidade descoberta por pesquisadores é que um grupo desses animais que vive em Santa Catarina está se "automedicando" com produtos de higiene humana para eliminar os parasitas.
O comportamento foi identificado em um estudo conduzido por especialistas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidad del Rosario, da Colômbia. Eles observaram que os quatis que vivem na Ilha do Campeche, em Florianópolis, estão utilizando itens como sabonetes, sabões em pó e até desengordurantes líquidos para "limpar" algumas áreas do corpo.
— Esses produtos costumam ser deixados por turistas, visitantes e moradores da ilha, que é um local turístico — explica ao site da USP Aline Gasco, doutora em Ciências pela FFCLRP e uma das autoras do estudo.
Segundo ela, a unção (ato de esfregar) é realizada em grupo e em sessões que podem chegar a cinco minutos de duração. Os animais usam patas, nariz, boca e dentes para aplicar os produtos na região genital e na cauda, áreas úmidas que geralmente são mais propensas ao desenvolvimento de bactérias e fungos.
Andrés Pérez-Acosta, professor da Universidad del Rosario, acredita que o comportamento é uma variação da cultura da automedicação e o classifica como "novidade dentre os carnívoros para aliviar irritação e coceira causadas por ectoparasitas".
Os pesquisadores propõem o monitoramento desses animais para avaliar "os níveis de infestação ectoparasitária na tentativa de relacioná-la ao uso dos produtos de higiene humanos". Este trabalho, segundo eles, requer uma abordagem multidisciplinar para entender completamente o "comportamento de automedicação com produtos de limpeza humanos".