Cientistas do governo detectaram um aumento nas emissões de um gás industrial ilegal que destrói o ozônio, o que tem o potencial de reduzir o progresso na restauração da camada protetora da atmosfera.
Os cientistas dizem que o aumento pode ser o resultado de uma produção nova e não declarada de um gás conhecido como CFC-11, provavelmente na leste da Ásia. A produção global de CFC-11, que foi usado como refrigerador e em espumas isolantes, está proibida desde 2010 por um pacto ambiental, o Protocolo de Montreal.
O protocolo foi adotado no final dos anos 1980 em resposta a estudos que mostraram que o CFC-11 e gases parecidos, conhecidos coletivamente como clorofluorcarbonos, esgotaram o ozônio da atmosfera. A camada de ozônio na estratosfera ajuda a filtrar a radiação ultravioleta do sol, que causa câncer de pele.
O Protocolo de Montreal, em geral aclamado como o acordo ambiental internacional de maior sucesso já promulgado, levou à diminuição dos clorofluorcarbonos e a um aumento do ozônio na estratosfera. Uma recuperação completa da camada de ozônio era esperada até o meio do século. Mas, se as emissões de CFC-11 continuarem, a recuperação pode ser adiada em cerca de uma década, diz Stephen A. Montzka, autor principal de um relatório que detalha as descobertas, publicado em 16 de maio no periódico Nature.
"Estamos levantando a bandeira para dizer, veja, isso não é o que esperamos que aconteça com a camada de ozônio", explica Montzka, pesquisador de Química no Laboratório de Pesquisa dos Sistemas da Terra em Boulder, no Colorado, que faz parte da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica.
David Doniger, diretor do programa de clima e energia limpa do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, um grupo ambiental de Washington, diz que as novas emissões são "ruins para a camada de ozônio e para as mudanças climáticas".
"É preocupante que alguém esteja trapaceando", afirma.
Doniger, porém, explica que o Protocolo de Montreal, que foi assinado por quase 200 nações, tem um forte histórico de conformidade, com os países geralmente relatando suas próprias violações. "Há uma chance razoável de que a gente consiga descobrir o que está acontecendo", diz.
Keith Weller, porta-voz do Programa Ambiental das Nações Unidas, que ajuda a implementar o protocolo, diz que as descobertas serão apresentadas para as partes do acordo para serem avaliadas. "É fundamental que a gente faça um balanço dessa ciência, identifique as causas das emissões e tome as medidas necessárias", afirma ele.
Embora o CFC-11 e gases similares tenham sido banidos há anos, eles ainda vazam em pequenas quantidades na atmosfera, principalmente quando prédios e equipamentos que contêm espumas isolantes são demolidos ou destruídos. O CFC-11 possui uma vida útil de cerca de 50 anos, então as emissões limitadas e a quebra natural do gás deveriam fazer com que sua concentração na atmosfera declinasse em um ritmo mais rápido a cada ano.
No entanto, a partir de 2013, análises de amostras de ar de dezenas de locais de monitoramento da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica por todo o mundo mostraram que, apesar de a concentração de CFC-11 estar diminuindo, isso vinha acontecendo em um ritmo mais lento. Segundo Montzka, esse fato sugere que há novas fontes do gás.
"Vi isso e disse, 'Não posso acreditar que as emissões aumentaram'", conta. Então, Montzka passou vários anos analisando outras possíveis explicações para os resultados. Uma possibilidade era o aumento no número de edificações antigas que contêm isolamento de espuma que estavam sendo destruídos; outra era que os processos atmosféricos que levam à quebra do CFC-11 haviam, de alguma forma, mudado. No entanto, não encontrou nenhuma evidência para provar essas explicações.
Além disso, em 2013, amostras colhidas no Havaí mostraram um aumento repentino no CFC-11, o que sugere que o gás estava sendo produzido no leste da Ásia e se espalhando através do Oceano Pacífico.
"Vamos deixar claro que a concentração do CFC-11 ainda está diminuindo", explica Montzka. Se as novas emissões acabarem logo, diz ele, "isso não terá muito impacto no cronograma de recuperação do ozônio".
"Espero que, assim que essa bandeira for hasteada e a conscientização aumentar, possamos ver esforços significativos para identificar a fonte", diz ele.
Por Henry Fountain