O último rinoceronte branco do norte macho morreu no Quênia, aos 45 anos, na segunda-feira (19), anunciou a equipe responsável por sua segurança. Sudan, como era chamado, sofria havia muito tempo de complicações de saúde por sua idade avançada. Após um agravamento considerável de seu estado, "a equipe veterinária tomou a decisão de praticar a eutanásia", informou em um comunicado a direção da reserva natural Ol Peteja, do Quênia, onde o animal vivia.
Quando Sudan nasceu, em 1973, em Shambe, no Sudão do Sul, havia quase 700 exemplares vivos. Em tese, a morte de Sudan significa a extinção dessa subespécie de rinoceronte. Duas fêmeas são as únicas sobreviventes.
Mas os cientistas coletaram seu material genético e estão tentando desenvolver técnicas de fertilização in vitro para preservar o rinoceronte branco do norte. Aliás, Sudan ficou famoso em 2017 quando teve um perfil registrado no aplicativo de encontros Tinder, como parte de uma campanha para arrecadar recursos para desenvolver técnicas de fecundação in vitro para preservar espécies.
Rinoceronte, uma espécie caçada
Sudan viveu os últimos anos de sua vida em uma reserva de 36,4 mil hectares no centro do Quênia, ao lado das duas rinocerontes fêmeas de sua subespécie, protegido dos caçadores por guardas armados.
– Em Ol Pejeta, estamos tristes com a morte do Sudan. Era um grande embaixador de sua espécie e será recordado porque serviu para alertar em nível global sobre a situação que os rinocerontes enfrentam, mas também as muitas milhares de outras espécies ameaçadas de extinção como resultado da insustentável atividade humana – afirmou o diretor do Ol Pejeta, Richard Vigne.
Os rinocerontes têm poucos predadores na natureza por seu tamanho. Mas a população de rinocerontes brancos do norte foi dizimada em Uganda, na República Centro-Africana, no Sudão e no Chade em consequência da caça dos anos 1970 e 1980, estimulada pela demanda de chifres de rinoceronte para a medicina tradicional chinesa na Ásia e para alças de punhal no Iêmen. Uma última manada selvagem (20 a 30 rinocerontes) na República Democrática do Congo morreu nos combates registrados naquele país no fim dos anos 1990.
Os rinocerontes estão no planeta há 26 milhões de anos. Em meados do século 19, sua população era de quase um milhão na África. Em 2008, o rinoceronte branco do norte foi considerado extinto em estado selvagem. Em 2011, o rinoceronte negro ocidental foi considerado extinto.
Sudan evitou a morte em estado selvagem quando foi capturado no Sudão do Sul, ao lado de outros seis exemplares, e enviado na década de 1970 para o zoológico de Dvur Kralove, na então Tchecoslováquia. Esse zoológico é o único lugar do mundo onde aconteceu uma reprodução em cativeiro. As últimas duas fêmeas desta subespécie, Navin e Fatu, filhas de Sudan, nasceram em Dvur Kralove. A mais jovem é Fatu, nascida em 29 de junho de 2000. Navin tem 28 anos.
Em 2009, quatro rinocerontes férteis, dois machos e duas fêmeas, foram transportados do zoológico de Dvur Kralove para a reserva de Ol Pejeta com a esperança de que as condições similares a seu hábitat natural permitissem a procriação. Não houve sucesso. O outro rinoceronte macho, Suni, morreu por causas naturais em outubro de 2014.
– Sudan foi um animal excepcional, incrivelmente gentil. Nunca manifestou nenhum sinal de agressividade, era muito obediente – recordou o tratador em Dvur Kralove, Jan Zdarek.