Estiagem, escassez, racionamento. Essas são algumas das palavras utilizadas de uns tempos pra cá quando o assunto é água potável. Uma das maiores preocupações dos cientistas ao redor do mundo, a crescente redução da oferta do bem líquido foi colocada como prioridade número um na pauta de pesquisadores e empresas de tecnologia. O resultado é que, mesmo com uma situação a certo ponto preocupante, o problema, aos poucos, encontra novos meios de ser solucionado.
— Existe sim uma inquietação com relação a uma futura escassez e ela não é infundada. É sabido que a população mundial vem crescendo, a poluição chegando em níveis mais altos e as mudanças climáticas afetando na quantidade de chuva. E esse cenário seria ainda mais preocupante se não houvesse uma conscientização da população em relação ao consumo consciente nem novas tecnologias surgindo para reaproveitamento e limpeza da água — diagnostica Eduardo Carvalho, diretor de operações da Corsan.
De acordo com Carvalho, episódios como a estiagem no Estado de São Paulo, em 2014, alertaram a população sobre a necessidade de um uso mais consciente. A comunicação em massa também se encarrega desse papel, batendo na tecla dos banhos mais rápidos, higiene dental com a torneira fechada, evitar o uso de mangueira para lavar carros ou calçadas e outras campanhas repetidas quase à exaustão. Outro movimento importante encontra-se na preocupação das empresas em buscar processos mais modernizados afim de reduzir a geração de resíduos.
Nos anos 90, o Polo Petroquímico dobrou a sua produção. Na contramão disso, no mesmo período, reduziu em 80% os resíduos produzidos. Esse tipo de ação evita o desperdício e possibilita enxergarmos um horizonte de desenvolvimento sustentável
EDUARDO CARVALHO
diretor de operações da Corsan
Agronegócio segue como maior consumidor
Enquanto o uso pessoal representa cerca de 12% do consumo total de água no mundo, a agricultura encabeça a lista de consumidores utilizando aproximadamente 70% desse montante. São os produtores rurais os responsáveis por alimentar uma grande fatia da população, logo, a maior demanda torna-se justificável, desde que o uso não seja desenfreado nem desnecessário.
— As lavouras de arroz, por exemplo, são reconhecidamente grandes consumidores d’água, pois utilizam o sistema de irrigação por imersão. Ao longo do tempo, os produtores têm feito um movimento por novas tecnologias que substituem ou alteram esse mecanismo para algo mais econômico do ponto de vista hídrico. É esse tipo de consciência que temos que estabelecer como sociedade — relembra Jorge Luiz Costa Melo, diretor-presidente da Corsan.
Melo ainda destaca a importância do tratamento do esgoto, lembrando que o objetivo da Corsan é sanear toda a região metropolitana de Porto Alegre em 11 anos. A empresa tem planos de estabelecer uma parceria público-privada com poderio de aumentar de 14% para 34% o esgoto tratado no Estado.
Tecnologias inusitadas e consagradas
Em 2015, Bill Gates chocou o mundo e gerou reações controversas ao beber um copo d’água limpa gerada a partir de dejetos humanos. Uma máquina, por meio de uma série de processos físicos e químicos, transformara o esgoto em água potável. A ação, ainda que inusitada, foi capaz de criar uma nova luz no fim do túnel para comunidades que já sofrem com o racionamento do líquido. Confira abaixo outras tecnologias que já estão ajudando no reaproveitamento da água:
Casca de banana
O invólucro da fruta tropical pode funcionar como um remédio eficaz em águas poluídas por pesticidas. As cascas de banana maduras são secas em um forno a 60 ºC por um dia, equivalente ao material exposto ao Sol durante uma semana. Depois, são trituradas e peneiradas, o que gera um pó de consistência parecida com a de uma ração. Esse material é, então, misturado a água. A casca da banana tem grande capacidade de absorção de metais pesados e compostos orgânicos. O método pode ser usado no tratamento de água de abastecimento público, vindas de regiões com intensa prática agrícola.
Dessalinização da água do mar
Um dos processos mais saudados por cientistas e já consagrado em várias regiões do mundo, a dessalinização permite transformar a água dos oceanos em bebida potável. A tecnologia ainda exige um grande investimento financeiro e as instalações também demandam bastante espaço físico, no entanto, o sistema vem evoluindo. O método em si consiste na retirada do sal da água por meio de técnicas físico-químicas como destilação, congelamento e osmose reserva.