Uma combinação de declive acentuado e pista sinuosa torna o trecho paranaense da BR-376 um dos pontos mais perigosos das estradas brasileiras. Foi no km 665 da rodovia em que sete jovens remadores de um projeto de Pelotas, o treinador e o motorista morreram em acidente na noite de domingo (20) – somente um integrante da equipe sobreviveu. O velório das vítimas está programado para esta terça-feira (22).
Na região, no sentido sul da via, há um declive acentuado de cerca de 700 metros. A colisão que vitimou os integrantes do projeto Remar para o Futuro aconteceu nas proximidades da chamada Curva da Santa, um dos pontos críticos da rodovia. O local fica entre os quilômetros 666 e 668 – o acidente aconteceu no km 665. No mesmo, em janeiro de 2021, um acidente com um ônibus que trafegava de Belém (PA) com destino a Florianópolis deixou 21 mortos. Em região próxima, em 2013, um ônibus de empresa de Sapiranga se acidentou no trecho, matando seis pessoas.
O trecho entre os quilômetros 660 e 670 da estrada registra, em média, um acidente a cada dois dias, de acordo com levantamento da Arteris Litoral Sul, concessionária responsável pelo rodovia, a pedido da Rádio CBN, em maio deste ano.
Pelas características da região, qualquer velocidade acima do permitido pode causar instabilidade nos veículos que trafegam pelo local. O limite é de 60 km/h.
— Em trechos de serra, como a da BR-376, em Guaratuba, apresenta-se redução do limite de velocidade para 60 km/h, o que é suficiente para neutralizar os riscos do aclive/declive. Entretanto, o excesso de velocidade, o excesso de peso, a falta de manutenção de veículos e outros fatores comportamentais, podem criar riscos nestes trechos — explica o inspetor André Filgueira, da superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Paraná.
Além disso, em dias de chuva, há o risco aumentado para deslizamentos de terra, como o que aconteceu em novembro de 2022, arrastando 15 carros e seis caminhões montanha abaixo.
A dinâmica do choque entre o caminhão que bateu na van que levava os remadores corrobora a explicação. O veículo de grande porte ficou sem freio, atingiu a traseira do carro da delegação pelotense, que se chocou com outro automóvel. A van saiu da pista, caiu em uma ribanceira, sendo posteriormente prensado pelo caminhão que tombou no mesmo local.
A rodovia conta com pórticos de redução de velocidade e áreas de escape, localizadas nos quilômetros 667 e 671. Elas funcionam da mesma maneira que as utilizadas em pistas de automobilismo. Trata-se de uma caixa de brita utilizada para reduzir a velocidade de veículos que ficam sem freio.
A região de escape foi construída pela Arteris em 2019. Naquele ano, segundo dados da concessionária, havia sido utilizada 135 vezes. Segundo a empresa, 228 vidas foram salvas pelo dispositivo naquele período. Até aquela data, segundo a empresa, já havia sido utilizada 135 vezes. Segundo a concessionária, 228 vidas foram salvas pelo dispositivo.
Em maio do ano passado, um caminhão carregado com 12 mil litros de etanol ficou sem freios durante a descida. A caixa de brita evitou que o veículo batesse e explodisse.
Estudo feito pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) aponta que 1.320 acidentes aconteceram no trecho paranaense da BR-376, o equivalente a 23,1% dos acidentes que ocorreram em rodovias federais do Paraná em 2023. Os acidentes resultaram em 101 mortes.
O time de remo não foi a única equipe esportiva a se acidentar na BR-376. Em 2021, o ônibus que estava com jogadores do Umuarama Futsal se envolveu em colisão com outros dois veículos. Duas pessoas morreram.
A rodovia tem início em Dourado, no Mato Grosso do Sul, atravessa o Paraná passando por Paranavaí, Ponta Grossa, Curitiba até Garuva, em Santa Catarina.