Há pelo menos três características lembradas de forma unâmime ao falar de Haraeli Marina Hoff Lagemann, que havia completado 21 anos em abril: o sorriso, a energia e a vontade de ajudar pessoas. Querida na comunidade de Teutônia, onde morava, a jovem atuava como bombeira voluntária e ajudou em diversos resgates nos últimos dois anos, segundo colegas.
Hara morreu em um acidente no último domingo (23), no município, quando a moto que dirigia colidiu com um carro na RS-419. Na carona, estava o namorado e bombeiro profissional, Carlos André, 23 anos, que teve fraturas, mas passa bem.
Além de Carlos, ela deixa os pais, Daiana e Elton, e as irmãs, Taila e Nita. No Facebook, dezenas de amigos de amigos também lamentam a despedida, assim como uma postagem feita pela prefeitura da cidade em sua página oficial.
— Para tu ter uma noção, quando ela ficou sem emprego e não tinha nada para fazer em casa, saiu e foi doar sangue. Era assim que ela era — conta a irmã mais velha. — Inclusive, no velório dela, estava uma pessoa para quem, em uma outra situação, ela doou sangue. E ele estava ali porque ela o ajudou. Ela respirava isso, ajudar os outros — conta Nita.
Noivado estava a caminho
A jovem morava com o namorado. Eles pretendiam anunciar o noivado em breve: nesta semana, os dois planejavam um ensaio fotográfico no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e usariam as imagens para contar sobre a nova etapa, segundo a amiga de Hara, Nany Mayer, que faria as fotos.
— Era uma mulher forte, autêntica. Quando ela chegava, era uma presença, não tinha como não notar. Pensava em participar de concursos plus size: ela olhava para si mesma, e se gostava, independente da opinião dos outros, dos padrões. Isso é algo muito poderoso. Ela me mostrou como viver o aqui e o agora — lembra Nany.
Segundo colegas, foi quando conheceu Carlos que Hara se tornou bombeira voluntária.
O colega de voluntariado, Emerson Daniel Cardozo, foi um dos bombeiros que atendeu ao acidente de Hara, junto de mais três socorristas.
— Estávamos na mesa iniciando a janta, mal começamos a comer e tocou o telefone — lembra. — O pior momento de um socorrista é ter que atender a um amigo ou colega de farda. Engolimos o choro, seguimos o atendimento, mas o sentimento quase transborda.
No enterro, realizado em Teutônia, colegas do Corpo de Bombeiros se despediram fardados, ao som da sirene do caminhão. De mãos dadas, eles se misturaram aos demais amigos e familiares.
— Ela ajudou a salvar muitas vidas como bombeira, fez um trabalho lindo. É o legado que fica pra gente — resume Taila.