“Pão de queijo, pão de queijo bem fresquinho!”. “Olha o pão caseirinho, feito hoje, só sete reais”. “Morango e bergamota, direto do Caí, preço bacana é comigo”.
Motoristas que trafegam em Porto Alegre já se acostumaram a ouvir frases semelhantes a essas ecoando entre os carros nos principais cruzamentos da capital gaúcha. É só fechar a sinaleira que começa a correria de quem precisa, literalmente, “se virar nos 30”, tanto para vencer o tempo do semáforo quanto para sobreviver a um país em crise financeira.
O Super Repórter deste sábado (2) conta a história de quatro pessoas que possuem como fonte de renda a venda de comida nos principais cruzamentos de Porto Alegre. Os relatos vão de expansão dos negócios até a falta de emprego. Confira:
Os pães do Emerson
Há um ano e meio, Emerson César Ribeiro, de 28 anos, faz do cruzamento da Avenida Erico Verissimo com a Ipiranga o seu escritório. Ele vende pães caseiros, de farinha branca e integral, e cachorrinhos, a um preço de R$ 7 e R$ 13, respectivamente.
“Nosso cliente é aquele que compra”, disse ao ser questionado sobre a clientela. Os pães do Emerson são famosos na região, e tem até gente que passa pelo cruzamento só para levar pra casa o produto feito por ele, pela irmã e mais três pessoas.
“Não interessa se é pedestre, se é carro, se é motorista, se é cobrador... Tem uma banca de chave aqui do lado, pessoal vem fazer chave e leva. Tem o pessoal do teatro também, às vezes toma um café e compra um pãozinho também”, contou, entusiasmado.
Emerson se caracteriza como um empreendedor. Hoje sua equipe possui outros dois locais de venda de pães e cachorrinhos espalhados em sinaleiras da Capital. O grupo até conseguiu alugar um espaço maior para a fabricação dos alimentos.
Um dos principais desafios citados pelo vendedor foi a conquista da confiança do cliente. Isso porque, por se tratar de uma venda de pães na rua, as pessoas desconfiavam da qualidade do produto. Mas, segundo Emerson, conforme o público foi provando, percebeu que o produto tinha qualidade.
“É suficiente para se manter e fazer um pouquinho de investimento. A gente começou com uma mesinha de ferro enferrujada, capenga ainda, e uma caixa de isopor. Começamos bem simples, mas aquela dedicação e esforço da pessoa a gente foi conseguindo crescer”, explicou Emerson.
As cucas da Natássia
A venda de pães recheados e cucas é a renda da família de Natássia de Oliveira Beck, de 26 anos. De segunda a sábado, faça chuva, faça sol, Natássia está no cruzamento da Avenida Protásio Alves com a Antônio de Carvalho, na Zona Leste de Porto Alegre.
“Todo dia sai pão quentinho”, garante. O pacote com sete pães recheados sai por R$ 10. Já a cuca é vendida apenas no sábado, a R$ 13.
“As coisas começaram a ficar não tão fáceis, né. A gente trabalhava com marcenaria antes, e aí a gente começou a fazer as cucas para ter um movimento, e acabou se tornando a renda da família mesmo”.
Há uma clientela fixa, principalmente aos sábados, pela famosa cuca feita por ela e pela tia. Mas, como o cruzamento é de grande circulação, sempre há fregueses novos. “Dá pra vender bem”, conta ela, empolgada.
O pão de queijo do Eduardo
Diferentemente de Emerson e Natássia, que fabricam o alimento e vendem nas sinaleiras, Eduardo Aires Menezes, de 18 anos, ganha comissão pela quantidade de saquinhos de pão de queijo que vende por dia.
“Sexta bomba mais”, detalha. Durante as tardes, ele circula, com simpatia, pelos veículos que utilizam a Rua Edu Chaves, na esquina com a Rua 18 de novembro.
O pacote custa R$ 6. Há 1 ano e três meses, esta é a única fonte de renda de Eduardo.
A batata frita do Douglas
Por falta de emprego, Douglas da Rocha da Silva, de 23 anos, começou a vender batata frita no semáforo da Avenida Ipiranga com a Antônio de Carvalho, na Zona Leste da Capital.
“Não tive outra coisa para fazer”, relata. Douglas ganha, em média, R$ 30 a 40 por tarde. Seu desejo mesmo é trabalhar na construção civil, mas conta que as oportunidades são escassas.
“Nesses últimos tempos está difícil. Mas para mim até está sendo bom, porque eu não tenho outra coisa para fazer. No momento, se aparecesse outra coisa, eu iria fazer o que eu gosto, que é trabalhar em obra”, contou Douglas.
Cada pacote de batata frita, em formato chips, custa R$ 5.