Um ano depois do acidente na Serra Dona Francisca, a jovem Elis Cristina Mazur, 21 anos, já fez três cirurgias, carrega um pino de metal no ombro, sente dores quase o tempo todo nas pernas e, o que lhe causa maior tristeza, perdeu o movimento dos dedos da mão esquerda. Faz fisioterapia pelo SUS e recebeu alta recentemente da psicoterapia. Ela viajava com o marido, a mãe e dois sobrinhos. Todos morreram.
- A gente tem que tocar a vida. É difícil, claro. Mas tem que tocar a vida - diz.
Elis quase não tem contato com os outros sete sobreviventes, mas vai abraçar cada um deles neste sábado. Ela e Alana Aparecida Pires, outra sobrevivente, têm poucos meses de diferença de idade. As duas tiveram uma série de consequências de saúde, mas retomam a vida aos poucos. Uma trabalhava em um mercado. Outra, em uma panificadora.
Durante todo o ano, a rotina foi de consultórios, médicos, radiografias, colares ortopédicos e fisioterapia. Aos poucos, cada uma vai reforçando a esperança de superar o trauma e recuperar completamente a saúde. Desde o acidente, Elis passou uma única vez pela Serra Dona Francisca. Mas pediu para não parar o carro.
- Eu vi o ônibus, mas não queria ter visto. Passei só uma vez no local do acidente. É muito triste a gente lembrar das pessoas que morreram lá.
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Rotina está voltando ao normal após o acidente
A vida na Serra Dona Francisca está voltando ao normal. Um ano depois da tragédia, a cerca de madeira e arame que envolve a propriedade do agricultor Rogério Artmann, onde o ônibus caiu e que serviu de base para a operação de retirada dos corpos, ainda é constantemente derrubada, alvo de curiosos que invadem a área para ir até o local do acidente.
- Agora é que estamos voltando ao normal, um pouco - diz Artmann.
Ele mantém a propriedade fechada com um cadeado 24 horas por dia. A plantação de bananas que existia no local onde o ônibus caiu está, aos poucos, sendo retomada. A trilha que foi aberta entre as árvores na ribanceira está fechada. A família limpou e cercou a área. Mas ainda há pedaços do ônibus e restos de objetos pessoais dos passageiros e usados na operação de salvamento.
Na noite do acidente, a família de Artmann viu mais de 40 corpos em seu quintal, espalhados perto da casinha de bonecas onde as duas filhas menores brincam. Foi graças à família que bombeiros, socorristas, médicos, enfermeiros e voluntários puderam manter uma rotina de mais de 12 horas de trabalho ininterrupto. A garagem da casa foi transformada em um local de descanso e lanche, com água e alimento oferecidos pela família. Um ano depois, a garagem está fechada e as filhas de Artmann já estão trocando as brincadeiras na casinha pelas tarefas escolares.
- A vida segue - diz o agricultor, que mora debaixo da última curva da serra.