Sete anos atrás, Tiago José de Oliveira era um estudante de Administração com todos os sonhos do mundo. Hoje, aos 26 anos, os objetivos que persegue são modestos: caminhar de novo, recuperar um pouco da fala, reaprender a alimentar-se sozinho. Um único instante foi responsável por essa reviravolta. Um pedestre apareceu à frente da moto de Tiago no meio da rodovia Tabaí-Canoas, em março de 2005. Ele não conseguiu evitar o choque e voou 30 metros.
Para cada pessoa que morre no trânsito, entre quatro e cinco encaram o mesmo destino do jovem de Triunfo: sobrevivem, mas passam o resto da vida convivendo com as sequelas e mutilações produzidas por um momento de imprudência ou desatenção. Nos últimos dois anos e meio, mais de 530 mil brasileiros uniram-se a esse contingente e obtiveram indenizações por invalidez permanente. Com a proximidade de mais um feriadão em que multidões vão tomar as estradas, ZH visitou centros de reabilitação para documentar os sacrifícios enfrentados por acidentados como Tiago.
Quando tombou, o jovem motociclista sofreu traumatismo craniano e lesões nas vértebras, responsáveis por lhe roubar a fala e os movimentos. Atualmente, Tiago encara quatro modalidades de terapia na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), que atende a um total de 770 pacientes: psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Nesta última, luta para recuperar habilidades prosaicas, como se vestir, manejar os talheres, escovar os dentes e fazer a barba.
- O objetivo é que ele possa se tornar independente nas atividades diárias, mas é um processo lento - explica a terapeuta Iana Wawrzeniak.
Durante anos, Tiago não conseguiu conter sua revolta com a nova condição. Só recentemente aceitou-a e superou o desespero. Não há certezas, mas ele se esforça para voltar a andar.
- Quero caminhar, nem que seja daqui a 10 anos - diz, com dificuldade.
A experiência do ex-caminhoneiro Nivaldo César de Melo, 50 anos, mostra que as sequelas e desafios persistem mesmo décadas depois do trauma. Ele colidiu com outro caminhão há 22 anos, em São José dos Pinhais (PR). Sua vida posterior foi moldada pelo incidente. Primeiro, passou 47 dias internado e amputou a perna esquerda. Durante 25 dias, de manhã e à noite, passou por procedimentos de retirada de tecidos necrosados, sem anestesia.
- Eles cortavam até sair sangue. Era tanta dor que um enfermeiro tinha de me segurar - relata.
Por causa das lesões, o pé direito recebeu enxerto de um músculo das costas e de pele da coxa. A ferida, no entanto, permaneceu aberta por cinco anos. Para fechá-la, Nivaldo tentou de tudo, desde barro até açúcar.
- Quando a gente sai do hospital é que começa a ver as dificuldades. O mais complicado foi aceitar as limitações. Não havia dia em que eu não pensasse no acidente - conta.
Depois que o pé sarou, Nivaldo tentou usar próteses na perna amputada. As dores fizeram-no desistir. Ele optou pelas muletas, mas agora está pagando o preço. Sente dores na coluna, nos joelhos, nos braços, nas mãos. Se não adaptar-se a uma prótese, vai para a cadeira de rodas. Nesta semana, ele veio de Tubarão (SC) a Porto Alegre para experimentar o equipamento e iniciar a adaptação:
- Vou ter de me virar - conforma-se.