Grandes nuvens de tempestade geralmente emitem raios gama continuamente, indetectáveis do solo, de acordo com dois estudos publicados nesta quarta-feira (2) na revista científica Nature. Assinados por docentes da Duke University, dos Estados Unidos, e da Universidade Norueguesa de Bergen, ambos tiveram participação da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa).
Na Terra, acontecem quase 40 mil tempestades diariamente, que produzem mais de 8 milhões de relâmpagos por dia. No entanto, a ciência por trás deste fenômeno "segue sendo pouco compreendida", segundo Joseph Dwyer, um físico especializado em tempestades, em um artigo que apresenta estes estudos.
Na década de 1990, satélites da Nasa dedicados à detecção de partículas de alta energia provenientes de tempestades solares, explosões de estrelas ou buracos negros registraram rajadas de raios gama a partir da Terra. Apesar disso, além dos reatores de usinas nucleares, não parecia haver uma fonte terrestre para esse fenômeno.
As observações concluíram que as emissões terrestres eram provenientes de tempestades e os classificaram em flashes e explosões de raios gama. Ambos, fenômenos invisíveis ao olho humano.
O primeiro, com duração de alguns minutos em uma área de apenas 20 km, iluminaria o topo das nuvens de tempestade. O segundo, semelhante a um choque, não duraria mais do que um milésimo de segundo.
— De fato, quase todas as grandes tempestades geram raios gama continuamente e de diferentes formas — destacou Steve Cummer, coautor dos dois estudos e professor de engenharia da Duke University, nos Estados Unidos.
Aeronave da Nasa
Para a confirmação do fenômenos, uma equipe internacional de pesquisadores realizou uma campanha de observação de um mês na Flórida, Estados Unidos, em 2023. O estudo permitiu sobrevoar, a 20 km de altitude, 10 sistemas de tempestades, nove dos quais forneceram evidências de um espectro de raios gama mais dinâmico do que o esperado.
— Ela se assemelha a um 'pote borbulhante' gigante de brilho gama, tanto na aparência quanto no comportamento — explica o primeiro estudo, dedicado à radiação e assinado por Martino Marisaldi, professor de física da Universidade Norueguesa de Bergen.
As nuvens de tempestades estudadas brilham com uma infinidade de emissões de raios gama que se acendem e se apagam por alguns segundos, por horas e em áreas de vários milhares de quilômetros quadrados.
O segundo estudo anuncia o descobrimento, também graças à campanha de observação, de um possível "elo perdido" entre flashes e explosões de raios gama. Assinada por Nikolaï Østgaard, professor de física espacial da Universidade de Bergen, essa pesquisa detectou o que ele descreve como explosões oscilantes.
"Há mais nas nuvens de tempestade do que chuva e relâmpagos", destacou a Nasa em nota, que explicou a incidência dos raios gamas na sequência: "Junto com as emissões de luz visível, as nuvens de tempestade podem produzir explosões intensas de raios gama, a forma mais energética de luz, que duram milionésimos de segundo. As nuvens também podem brilhar constantemente com raios gama por segundos a minutos de cada vez".