Desde abril, o Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) está desenvolvendo testes com um protótipo de remoção de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. A primeira estrutura instalada tem a capacidade estimada de capturar 15 toneladas por ano. Uma planta experimental, com capacidade estimada de captura de 300 toneladas por ano, associada a uma unidade de geração de energia solar, está sendo instalada na universidade. A inauguração está prevista para setembro.
A pesquisa é realizada em parceria com a Repsol Sinopec Brasil, companhia de exploração e produção de petróleo e gás, que financia o projeto como parte de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, especialmente sobre descarbonização. Devido à afinidade de atuação, o IPR foi procurado pela empresa no final de 2021 com o desafio de desenvolver um projeto pioneiro no Brasil nesta área.
O grupo Repsol está comprometido com o Acordo de Paris, que busca limitar o aquecimento global até 2050, conforme Cassiane Nunes, gerente de Suporte e Portfólio de Pesquisa da Repsol Sinopec Brasil. Estima-se que, para isso, serão necessárias tecnologias de emissão negativa (Negative Emissions Technology - NET, que removem carbono da atmosfera), com eliminação de cerca de 8 gigatoneladas de CO2 em 2050 – e acredita-se que esta tecnologia de Direct Air Capture (DAC, captura do CO2 direto do ar) possa contribuir com pelo menos 50% dessa necessidade.
Poderão ser desenvolvidas pesquisas para o aprimoramento da tecnologia DAC em um ambiente de alta umidade e alta temperatura, condições ainda não avaliadas, aponta Cassiane:
— Ao que temos conhecimento, estamos implementando a primeira unidade DAC no Brasil e a primeira da América Latina.
O protótipo atualmente em funcionamento ainda não armazena o carbono, que é devolvido à natureza. Em breve, contudo, esta etapa também será realizada na PUCRS. O IPR estuda ainda destinações para o gás, para retirá-lo de maneira permanente da atmosfera. Uma das possibilidades é o armazenamento em reservatórios geológicos exauridos, transformando-o novamente em mineral, de modo a estabilizar-se.
Aposta para o futuro
Anualmente, são emitidas cerca de 30 gigatoneladas de CO2 na atmosfera a nível global, resultado, sobretudo, de atividades industriais, principalmente de geração de energia elétrica, de acordo com Felipe Dalla Vecchia, diretor do IPR. Estima-se que os equipamentos instalados na PUCRS conseguirão capturar 315 toneladas, o que ainda precisará ser verificado.
— Então, 300 toneladas é pouquíssimo comparado com o desafio. É nada. Mas qual é o grande desafio aqui? Começar a se estudar e desenvolver uma tecnologia que possa ser escalável a ponto de termos sistemas operando em escala industrial que vão fazer uma remoção significativa do CO2 — aponta, ressaltando que ainda é preciso avançar nos processos.
As emissões são inevitáveis e sempre ocorrerão. Por esse motivo, além do processo de redução, é preciso realizar o de remoção, de modo a equalizar a concentração na atmosfera, analisam os pesquisadores.
A iniciativa é importante pois somente as árvores não serão capazes de zerar a concentração de carbono, segundo o diretor do IPR. Além disso, não seria viável travar empresas. Assim, não há necessidade de realizar a destruição do que já existe para que ocorra uma transição energética e descarbonização justa, frisa Victor Hugo dos Santos, químico e pesquisador líder da parte técnica do projeto no IPR. Trata-se de um problema complexo que demanda mais de uma solução.
— Além de preservar os ecossistemas, o meio ambiente, trabalhar com florestamento, reflorestamento, a gente vai precisar de outras tecnologias para ser possível gerenciar essa quantidade enorme de carbono e CO2 que a gente tem na atmosfera — ressalta Dalla Vecchia.
Oportunidade para o Brasil
Uma característica importante para operar uma planta de DAC é a disponibilidade de energia renovável, de diferentes tipos. Por esse motivo, bem como pela disponibilidade de reservatórios geológicos, o Brasil tem potencial para se tornar um sumidouro de carbono no mundo, podendo oferecer esse serviço a outros países e gerando créditos de carbono, explicam os pesquisadores.
— Acreditamos que o Brasil possa vir a ser um grande hub de tecnologias NET e estamos investindo nisso — acrescenta a gerente da Repsol Sinopec Brasil.
Há 27 plantas DAC de diferentes escalas em operação de testes no mundo – todas são projetos-pilotos. De acordo com a Repsol Sinopec Brasil, o objetivo é tornar o projeto escalável, implementando a tecnologia em larga escala no Brasil – há planos para construir a primeira planta-piloto para captura de 5 mil toneladas de CO2 por ano.
Para os pesquisadores da PUCRS, a iniciativa é motivo de orgulho e satisfação por contribuir com o quebra-cabeça da questão climática. Por ora, ainda não é possível compartilhar resultados alcançados na PUCRS, já que a tecnologia e seus comportamentos ainda estão sendo estudados. Na próxima semana, os pesquisadores do IPR vão para a Islândia visitar o projeto considerado referência no mundo.