Um grupo de pesquisadores revelou em um estudo publicado nesta terça-feira (23) na revista científica Nature que os relâmpagos de Júpiter têm mais elementos em comum com os da Terra do se sabia até então, como os seus processos de formação. A descoberta só foi possível graças aos dados disponibilizados pelo instrumento Waves, que está a bordo da sonda Juno, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa). A tecnologia realiza observações no planeta gasoso desde 2016.
Segundo a pesquisa, apesar de os dois planetas serem diferentes em seus tamanhos — Júpiter tem 139.820 quilômetros de diâmetro enquanto a Terra tem 12.742 quilômetros — e terem distintas composições químicas — como a superfície sólida do nosso planeta que falta no outro —, os relâmpagos em ambos produzem o mesmo tipo de tempestades elétricas. Além disso, de acordo com as observações, os raios de Júpiter ocorrem da mesma maneira do que os terrestres.
Apesar de algumas vezes relâmpagos e raios serem utilizados como sinônimos, existe uma diferença entre esses termos. O primeiro se refere à descarga elétrica propriamente dita, já o segundo faz referência à luz liberada por essa intensa corrente elétrica.
Essa não é a primeira vez que cientistas estudam os relâmpagos do gigante gasoso. Tecnologias anteriores, como a Voyager 1 e a Voyager 2 — ambas da Nasa —, Galileo e Cassini tentaram obter registros do fenômeno. No entanto, nenhum desses equipamentos espaciais tinha instrumentos capazes de captar os sinais de rádio, apelidados de assobiadores, que são esperados de relâmpagos.
O Waves conseguiu coletar 10 vezes mais emissões de rádio do que os equipamentos que foram lançados anteriormente para explorar o planeta. Ele conseguiu registrar também sinais de rádio separados por até um milissegundo. Com isso, os pesquisadores descobriram que durante o processo de formação dos relâmpagos em Júpiter, o ar nas nuvens jupiteriano é carregado e, nesse processo, se formam os raios, processo semelhante ao ocorrido na Terra.
— A parte mais desafiadora e também mais demorada do trabalho foi a busca por sinais de raios nos registros do instrumento Waves — afirmou Ivana Kolmašová, pesquisadora do Instituto de Física Atmosférica da Academia Tcheca de Ciências em Praga e principal autora do novo estudo, ao site Space.
Apesar do importante avanço que esse estudo trouxe, algumas questões ainda são desconhecidas pelos pesquisadores. A ciência ainda não conseguiu entender e esclarecer, por exemplo, porque o local onde ocorrem os raios jupiterianos e terrestres são distintos. Em Júpiter uma grande parte das tempestades elétricas foi encontrada em latitudes médias, superiores e nas regiões polares, mas está ausente no equador, região de maior ocorrência delas no caso da Terra.
— Quase não temos atividade de raios perto dos pólos da Terra. Isso significa que as condições para a formação de nuvens trovoadas jupiterianas e terrestres são provavelmente muito diferentes — esclareceu Ivana.
Outra diferença entre os fenômenos, é que as tempestades elétricas em Júpiter são desiguais, com o hemisfério norte recebendo mais raios do que a porção sul, o que não ocorre na Terra. Até o momento, os pesquisadores não descobriram a razão disso.
Como os relâmpagos são formados?
No caso da Terra, os relâmpagos se originam dentro de nuvens turbulentas. Nesse processo, os ventos ascendentes provocam o movimento de uma porção das gotas de água, que posteriormente se transforma em gelo. Já os ventos descendentes empurram as bolhas geladas de volta para o fundo das nuvens.
Quando o gelo que cai encontra as gotas de água que sobem, há uma perda dos elétrons do gelo, resultando na formação de uma nuvem cuja base é carregada negativamente e a porção superior é carregada positivamente. O ar funciona como isolante entre essas duas extremidades.
Devido a essa diferença de cargas elétricas, o raio dispara dentro da nuvem ou da base de uma delas para o solo. A recente pesquisa descobriu que esse processo ocorre de modo semelhante em Júpiter.