Um grupo de cientistas alemães e franceses publicaram, em maio deste ano, na revista científica Palaeontologia Electronica, um artigo que revela novas detalhes e características do dinossauro Irritator Challengeri, que viveu na região da Chapada do Araripe, entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, há 110 milhões de anos. Para realizar o estudo, os pesquisadores fizeram uma tomografia do crânio do animal. O fóssil foi levado embora do Brasil na década de 1990 e se encontra atualmente no Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha.
Com base nas estruturas do crânio, a equipe descobriu que o réptil não se alimentava apenas de animais pequenos, mas também de outros maiores. Além disso, concluíram que ele era um caçador mais rápido e versátil do que se acreditava até então e que sua mordida era mais fraca se comparada a de outros dinossauros, mas excepcionalmente mais veloz.
"Muitas mudanças anatômicas induzidas pela evolução explicam a aparência comparativamente bizarra desses dinossauros, que provavelmente eram especializados em capturar presas relativamente pequenas e ágeis", esclareceu Marco Schade, paleontólogo líder do estudo, em comunicado à imprensa.
A pesquisa também aponta que o réptil tinha facilidade de transitar entre os ambientes terrestre e aquático. Apesar das importantes descobertas, os autores do artigo foram criticados por alguns internautas nas redes sociais devido ao fóssil analisado ser considerado contrabandeado.
Em um trecho do artigo publicado, os autores do estudo "reconhecem o estado possivelmente problemático" do fóssil, mas argumentam que a aquisição do material foi feita em um período anterior às restrições de exportação presentes no regulamento brasileiro, de 1990. Apesar dessa tentativa de defesa, a equipe foi duramente critica na internet pela comunidade paleontóloga brasileira, que também acusou a revista de ter aceitado um artigo com uma declaração ética considerada "bastante frágil".
O dinossauro
O Irritator Challengeri é um dinossauro carnívoro pertencente à família dos espinossaurídeos — viveram no período do Cretáceo, entre 145 e 65 milhões de anos.
A palavra "irritator", no nome do animal, significa "irritante". Há relatos que dizem que isso teria se originado porque quando o fóssil foi levado embora do Brasil, ele tinha a aparência de estar bem completo e preservado, no entanto, depois de uma análise minuciosa, parte das estruturas do material se revelaram uma fraude. Ainda de acordo com versões das histórias sobre o tema, contrabandistas teriam reconstruído as partes faltantes do crânio para dar a impressão de que a peça estava mais íntegra, aumentando assim o valor que seria pago por ela e, então, quando os cientistas descobriram a farsa, teriam se irritado. Há também um relato que atribui que a irritação ocorreu devido ao trabalhado delicado de remoção dos enxertos.
Já o termo "Challengeri" é uma homenagem ao professor G.E.Challenger, personagem de ficção das obras do escritor Sir Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes.
Contrabando de fósseis brasileiros
As discussões em torno do contrabando de artefatos paleontológicos não são recentes. Desde 1942 existe um decreto-lei no Brasil que determina que todos fósseis encontrados no país são propriedade do Estado e não podem ser transferidos para outras nações.
No Brasil, o caso mais conhecido de contrabando é o do fóssil do dinossauro Ubirajara Jubatus, que foi levado para a Alemanha em 1995 e se encontra atualmente no Museu Estadual de História Natural de Karlsruhe.
Em 2020, o Ministério Público Federal instaurou um inquérito para apurar a saída dos restos mortais do Ubirajara do país. Em julho do ano passado, as autoridades alemãs chegaram a declarar que concordavam em devolver o fóssil ao Brasil. No entanto, ainda não há uma previsão de quando a repatriação será realizada.
Existem também outras tratativas em curso para reaver fósseis brasileiros que se encontram em museus de outros países. No entanto, o processo geralmente é lento e burocrático e exige a intervenção do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty).