O casal de paleontólogos Joseph Botting e Lucy Muir publicou nesta segunda-feira (1º) um estudo na revista científica Nature que detalha a descoberta de fósseis de animais que teriam habitado a Terra há 462 milhões de anos. Os achados foram encontrados pelos pesquisadores em uma pedreira de 10 metros de largura presente em um campo de ovelhas perto de sua residência, em Llandrindod, no País de Gales.
Conforme informações do jornal The Guardian, Botting e Lucy teria encontrado o local há cerca de 10 anos, mas só resolveram estudá-lo em 2020, período em que não puderam viajar a trabalho e ficaram em isolamento social em decorrência da pandemia de coronavírus.
Para realizar o estudo paleontológico dos fósseis menores, que chegavam a três milímetros de comprimento, os pesquisadores fizeram um financiamento coletivo para comprar um microscópio de alta potência. A iniciativa rendeu-lhes cerca de R$ 100,6 mil, mais do que o dobro da meta estabelecida. Com isso, eles compraram o instrumento e ainda conseguiram guardar o restante do dinheiro para investir no estudo.
O casal passou mais de cem dias extraindo os fósseis no campo de ovelhas, que está localizado no sítio arqueológico conhecido como Castle Bank, que data do período Ordoviciano médio — de 460 a 70 milhões de anos.
Joseph e Lucy também convocaram uma equipe internacional formada por amigos e colegas da área para ajudar na conclusão do estudo. Pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, auxiliaram na dissolução de partes de rocha em ácido fluorídrico e na extração de fragmentos minúsculos de fósseis que mostravam detalhes das espécies em nível celular.
Os fósseis encontrados
De acordo com o site Live Science, os paleontólogos encontraram 170 fósseis com tecidos moles preservados. Entre os achados estavam vestígios de cérebros, olhos, nervos ópticos e sistemas digestivos de animais antigos, incluindo artrópodes médios, crustáceos, espécies de estrelas do mar, esponjas e vermes nunca antes registrados pela ciência.
Segundo a pesquisa, essas criaturas marinhas encontradas teriam vivido em um período que o oceano cobria o que atualmente se conhece como o centro do País de Gales.
Para a equipe, esses fósseis podem fornecer pistas e indícios de como a vida evoluiu após a explosão cambriana, período histórico em que se acredita que os ancestrais da maioria dos animais que existem hoje evoluíram.
— Coincide com o evento da Grande Biodiversificação do Ordoviciano, quando animais com esqueletos duros estavam evoluindo rapidamente. Foi quando a ecologia se diversificou, assim como os próprios animais — explicou Lucy Muir, ao The Guardian.
Apesar da grande quantidade de fósseis encontrados, os paleontólogos acreditam que há ainda muito a ser escavado e descoberto no local.
— Toda vez que voltamos, encontramos algo novo e, às vezes, é algo realmente extraordinário. Há muitas perguntas sem resposta, e este sítio continuará produzindo novas descobertas por décadas — afirmou Joseph Botting ao jornal britânico.