Pesquisadores norte-americanos identificaram pela primeira vez, a partir de uma espectroscopia de acompanhamento de uma imagem obtida com o telescópio Hubble, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), um buraco negro que pode ter sido formado pela colisão de três galáxias. De acordo com os estudiosos, ele é cerca de 20 milhões de vezes mais massivo do que o Sol. Com informações do site da Nasa.
Segundo Pieter van Dokkum, pesquisador da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, ele estava procurando por aglomerados globulares de estrelas em uma galáxia anã próxima, quando identificou, de forma acidental, o buraco negro.
— É pura coincidência que o tenhamos encontrado. Eu estava apenas examinando a imagem do Hubble e notei que temos um pequeno traço. Imediatamente pensei: "Oh, um raio cósmico atingindo o detector da câmera e causando um artefato de imagem linear" — contou van Dokkum a veículos locais.
Para se certificar de que o que estava visualizando era resultado de um raio cósmico, Pieter decidiu analisar mais profundamente a imagem.
— Quando eliminamos os raios cósmicos, percebemos que ainda estavam lá. Não se parecia com nada que já vimos antes — acrescentou o pesquisador.
Devido à estranheza que esse fato gerou, os pesquisadores optaram por realizar espectroscopia de acompanhamento — técnica que permite identificar a composição da matéria a partir da separação e identificação de cada comprimento de onda oriundo dos diferentes elementos químicos que o constituem — com os Observatórios WM Kech, no Havaí, nos Estados Unidos.
A partir dessa técnica, chegou-se a conclusão de que o que estava sendo visto na imagem eram as consequências de um buraco negro voando através de um halo de gás ao redor da galáxia hospedeira. Van Dokkum descreve a trilha estelar presente na fotografia como "bastante surpreendente, muito, muito brilhante e muito incomum".
A origem do buraco negro
Com os dados obtidos nos Observatórios WM Kech, os estudiosos também conseguiram formular hipóteses sobre a formação desse buraco negro. De acordo com os cientistas, ele teria surgido após a colisão de três galáxias.
A teoria proposta é a de que duas galáxias possivelmente se fundiram há 50 milhões de anos e uniram dois buracos negros gigantes, que giraram de forma harmoniosa um ao redor do outro durante algum tempo. Uma terceira galáxia, no entanto, colidiu contra eles com seu próprio buraco negro, criando um trio instável e caótico que, eventualmente, expulsou um deles a uma velocidade tão alta quanto a de uma viagem entre a Terra e a Lua em 14 minutos.
No perfil do Twitter voltado às descobertas do Hubble, a Nasa divulgou um vídeo que ilustra como teria sido a formação do corpo celeste. "O Hubble detectou evidências de um buraco negro "fugitivo" que foi ejetado de sua galáxia hospedeira após uma briga entre ele e dois outros buracos negros", diz o tweet.
Comportamento incomum
Esse enorme buraco, que pode ter nascido de uma interação incomum de massas intergalácticas, também chama a atenção, porque, pelo registro obtido, ele cruza o espaço, em meio à escuridão e a poeira cósmica ao redor, e deixa para trás um rastro de estrelas recém-nascidas de 200 mil anos-luz de extensão.
— Acreditamos que o que vemos é um rastro atrás do buraco negro onde o gás esfria e é capaz de formar estrelas — explicou Pieter van Dokkum.
Segundo os cientistas, o gás provavelmente é expulso e aquecido pelo movimento do buraco negro.
— O gás que se encontra à frente recebe uma descarga devido ao impacto supersônico e de alta velocidade do buraco negro que se move através deste gás — destacou Dokkum.
Este é o primeiro buraco negro com um rastro de estrelas avistado, mas, segundo a Nasa, não se trata, necessariamente, do único. Seu telescópio espacial Nancy Grace Roman, cujo lançamento está previsto para esta década, deve proporcionar aos astrônomos uma visão mais ampla do Universo, e pode levar à descoberta de mais eventos como este.
Há risco para a Terra?
Os astrônomos afirmam que não há motivo para preocupação na Terra de que esse buraco negro possa colidir com o planeta ou com nossa galáxia, a Via Láctea, porque esse processo de formação do buraco e o que é visto na imagem ocorreu a uma distância muito grande e há muito tempo atrás, quando o Universo tinha a metade de sua idade atual.
O que está retratado na fotografia só está visível agora devido ao tempo que a luz demora para chegar até o planeta. Para efeitos de comparação, a luz do Sol, corpo celeste que está há 149,6 milhões de quilômetros da Terra, leva 8,3 minutos para chegar. Imagens de corpos celestes mais distantes, como a desse buraco negro, demorariam muito mais tempo, na ordem de milhões de anos.