Um grupo de pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, realizou um estudo que apontou que as mulheres, em média, têm mais empatia cognitiva do que os homens. Os resultados da pesquisa foram publicados nesta segunda-feira (26) no site científico EurekAlert.
Ao todo foram analisados mais de 300 mil voluntários de 57 países e com idades de 16 a 70 anos. David Greenberg, principal autor do estudo, disse em comunicado que foi necessário ter uma amostra extensa para obter um grande conjunto de dados, o que aumenta a confiabilidade nos resultados obtidos.
A empatia analisada na pesquisa foi a cognitiva, que é aquela que ocorre quando uma pessoa é intelectualmente capaz de entender o que outra pessoa pensa ou sente e utiliza esse conhecimento para prever como esse indivíduo agirá ou se sentirá. Segundo a análise, as mulheres da maioria dos países envolvidos no estudo apresentaram melhor desempenho.
Existe ainda outro tipo de empatia, a afetiva ou emocional — não contemplada no estudo —, que é quando alguém consegue sentir as emoções de outra pessoa.
Como foi a análise
Na primeira etapa, os pesquisadores solicitaram por meio de um questionário online que cada um dos voluntários olhasse fotos de rostos desconhecidos e se atentasse para a região dos olhos das pessoas fotografadas. Depois, os cientistas pediram que eles escolhessem uma palavra, entre um conjunto de possibilidades, que pudesse descrever como o sujeito da imagem estava se sentindo ou o que ele estava pensando, com base nas expressões faciais.
A partir das respostas fornecidas, os pesquisadores atribuíam pontos aos voluntários quando acertavam ou se aproximavam da resposta correta.
Essa análise é conhecida como teste de leitura da mente nos olhos ou teste dos olhos. A técnica é usada geralmente para medir a capacidade de um indivíduo em reconhecer o estado mental ou as emoções de outras pessoas.
A partir desse método, os pesquisadores conseguiram analisar a empatia cognitiva dos voluntários. O teste dos olhos também ajuda a determinar se alguém tem problemas mentais ou cognitivos. Estudos anteriores revelaram que pessoas com autismo, em geral, costumam ter pontuações mais baixas, assim como indivíduos com demência ou distúrbios alimentares.
Resultados
A pesquisa apontou que as mulheres obtiveram, em média, pontuações significativamente mais altas do que os homens em 36 países, e semelhantes a eles em 21 países.
O estudo também concluiu que em nenhum dos 57 países analisados os homens conseguiram obter médias significativamente mais altas do que as mulheres. Além disso, a equipe descobriu que o desempenho dos voluntários aumentava na adolescência e diminuía ligeiramente na vida adulta para ambos sexos. Em outras palavras, quanto mais velha a pessoa se torna, menor é sua empatia cognitiva.
Outra descoberta é que em sociedades mais livres e democráticas a vantagem na pontuação das mulheres diminuía com relação a dos homens. Isso ocorreu em países como Austrália, Dinamarca, Grã-Bretanha e Suíça.
Já em países mais conservadores, como a Arábia Saudita, as mulheres conseguiram pontuações muito maiores do que os homens.
"Nossas análises exploratórias em nível de país sugeriram que a vantagem feminina no teste dos olhos estava correlacionada com diferentes métricas em nível de país, como o coletivismo "explicou o pesquisador David Greenberg, em comunicado.
A equipe envolvida nesta pesquisa pretende realizar novos estudos para investigar outras correlações entre o sexo e outros fatores como cultura, idioma e idade.
"Este estudo demonstra claramente uma diferença de sexo amplamente consistente entre países, idiomas e idades. Isso levanta novas questões para pesquisas futuras sobre os fatores sociais e biológicos que podem contribuir para a diferença média observada entre os sexos na empatia cognitiva" afirmou, em comunicado, Carrie Allison, diretora de pesquisa aplicada do Centro de Pesquisa em Autismo, da Universidade de Cambridge.
Por que mulheres são mais empáticas do que homens?
Os pesquisadores acreditam que as mulheres, em geral, têm maior empatia cognitiva do que os homens devido a fatores biológicos e sociais. Os autores do estudo ainda enfatizam que isso é apenas uma média, já que pode haver casos de alguns indivíduos do sexo masculino que são muito mais empáticos do que algumas mulheres.
Outro ponto de atenção levantado pelos estudiosos é de que algumas pessoas com deficiência mental ou problemas cognitivos podem ter sua empatia afetada. Indivíduos com autismo também, em geral, têm dificuldade para ler expressões faciais, fator importante para medir a empatia cognitiva.
A pesquisa não conseguiu explicar a diferença de empatia de forma individual entre os voluntários e por que ocorre o declínio dela ao longo da idade. Por conta disso, estudos com essas correlações deverão ser realizados nos próximos anos.