O tempo se armou, a chuva se aproxima e no primeiro sinal de temporal o alerta é imediato: os eletrônicos podem queimar. A preocupação não é à toa, uma vez que Brasil é o país com a maior incidência de raios em todo o planeta — por ano, são mais de 70 milhões de descargas elétricas registradas aqui, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT), do Inpe, o raio é um relâmpago que atinge o solo. Os relâmpagos, por sua vez, são descargas atmosféricas de grande intensidade que ocorrem dentro de nuvens de tempestade a partir de cargas elétricas provocadas pelo atrito entre partículas de gelo. Quando o campo elétrico produzido por essas cargas excede a capacidade isolante do ar, a descarga elétrica se forma.
— Na maioria das vezes, a descarga elétrica termina atingindo a fiação da concessionária e ela termina sendo conduzida para dentro da residência do indivíduo. Se não tiver dispositivos apropriados para conter essa grande corrente elétrica, ele danifica os equipamentos — explica o engenheiro eletricista e coordenador do curso de Engenharia de Energias Renováveis da PUCRS, Odilon Duarte.
De acordo com o especialista, o primeiro passo em um dia de temporal é, se possível, retirar da tomada os equipamentos conectados à energia, como modem de internet, televisão e computador. No caso da geladeira, por exemplo, que precisa permanecer conectada na energia para não estragar os alimentos, a recomendação é evitar encostá-la, pois pode dar choque, uma vez é de metal, um bom condutor térmico.
Se faltar a luz durante o temporal, quando a energia voltar, a recomendação é aguardar alguns minutos e não ligar o equipamento imediatamente, segundo o engenheiro. Isso porque mesmo que a unidade consumidora não seja diretamente atingida por um raio, a tensão elétrica pode estar em um valor muito alto, fora do padrão, quando restabelecida, o que pode causar a queima de um aparelho.
Aparelhos que ajudam na proteção
Para maior segurança contra danos, de acordo com Odilon, um dispositivo de proteção contra surtos (DPS) pode ser um bom aliado. Os DPS são equipamentos que visam proteger a rede elétrica e os equipamentos eletrônicos contra a queda de raios e variações de energia. O dispositivo consegue detectar surtos e desviar a corrente elétrica para o aterramento.
— O DPS é um equipamento que exige que a instalação tenha um sistema de aterramento, mas a realidade brasileira é bem diferente, não chegamos nem a 20% das instalações elétricas comerciais e residenciais com DPS. Nossas casas e estabelecimentos ficam à mercê.
O engenheiro eletricista explica que o aterramento é importante, pois a descarga elétrica pode atingir alguma parte metálica da residência, como cerca ou janela, que tem boa condução de eletricidade, provocando danos a equipamentos.
— É sempre importante que elementos metálicos sejam aterrados porque a eletricidade sempre vai buscar o caminho mais fácil para percorrer. Como o metal oferece pouca resistência, a descarga vai querer passar por ali —explica Odilon.
Outra ferramenta que pode evitar danos a aparelhos são os estabilizadores, que podem ser usados em aparelhos como TV, roteadores e computadores. Para proteger um equipamento em um momento em que há oscilação de energia, o estabilizador queima no seu lugar.
Essa proteção acontece porque um fusível de proteção dentro do estabilizador queima em momento de instabilidade, impedindo que a energia chegue até o aparelho. Mas atenção: não é recomendado utilizar estabilizador em eletrodomésticos de grandes potências, como geladeira e micro-ondas, por exemplo.
— E, claro, sempre que possível que se tenha uma condição elétrica adequada. A gente não enxerga (a fiação), então é sempre importante chamar um eletricista habilitado para fazer uma inspeção. É importante que esse eletricista veja se está tudo bem. E, se possível colocar sistema de aterramento, porque traz a segurança — finaliza o engenheiro eletricista.
Dicas RGE
- Não use o celular ou telefone durante o período de maior incidência dos raios, pois a rede de dados também pode ser caminho para uma descarga atmosférica.
- É preciso cuidado com o nível da água. Os disjuntores da residência deverão ser desligados se a água atingir a altura das tomadas mais baixas. Isso evita que a corrente de energia passe pela água. Caso a água atinja a caixa do medidor de luz, a energia elétrica da residência precisa ser desligada pela RGE.
- Nunca use aparelhos elétricos e eletrodomésticos durante as tempestades ou em locais com água ou umidade, nem com as mãos ou os pés molhados. Cobri-los não gera qualquer efeito de proteção.
- Não mude a chave (verão/inverno - fria/morna/quente) do seu chuveiro se ele estiver ligado e, principalmente, nos dias em que estiverem ocorrendo descargas atmosféricas.
Dicas CEEE
- Não faça manutenção em equipamentos elétricos ligados à tomada, pelo risco de choque elétrico.
- Em caso de raios e trovões, retire imediatamente das tomadas equipamentos como televisão, som, ventilador, computador, carregadores de celulares e outros.
- Se perceber que as paredes de sua casa estão úmidas, evite o contato e não ligue equipamentos elétricos em tomadas instaladas, pois as paredes podem ser fonte de choques e mau funcionamento de equipamentos, causando danos aos aparelhos.
- Em caso de inundação, desligue o disjuntor no medidor de energia (chave geral), mas caso o relógio também corra risco de ser atingido pela água, ligue para o Canal de Atendimento da CEEE Equatorial (0800 721 2333) e peça o desligamento do ramal de serviço.