Um sítio fossilífero em Dona Francisca, cidade a 60 km de Santa Maria, revelou uma informação importante sobre a existência dos dinossauros no Estado e no continente Sul-Americano. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) encontram por lá o fóssil mais antigo da América do Sul, pertencente a um animal ancestral dos grandes répteis.
O material encontrado trata-se de um fêmur com 11 centímetros de comprimento e características únicas do grupo dos dinossauros, como o formato do osso. O exemplar data de 237 milhões de anos atrás, sendo que, até então, o registro mais antigo de um precursor dos dinossauros no continente havia sido feito na Argentina e tem 236 milhões de anos de idade.
O paleontólogo gaúcho Rodrigo Temp Müller, responsável pelo estudo, explica que a ciência já sabe que o Brasil e a Argentina detêm os registros mais antigos de dinossauros do mundo, com cerca de 233 milhões de anos. Mas faltavam informações sobre animais diretamente relacionados à origem deles e sobre a sua presença no país.
— Além de ser um fóssil mais antigo do que os dinossauros que existiram no Brasil, também é o material mais antigo da América do Sul para esse grupo de animais que deu origem aos dinossauros. Isso porque os registros de ancestrais na Argentina são pelo menos um milhão de anos mais recentes dos que os encontrados no RS. O estudo serve para sabermos que os precursores dos dinossauros já estavam existindo aqui no Estado, e não que existiam na Argentina e só depois migraram para cá — afirma Rodrigo.
O fóssil revela que os ancestrais dos dinossauros viveram na região pelo menos 1 milhão de anos antes do que se imaginava. Pela amplitude da descoberta, os gaúchos conseguiram um espaço no periódico científico Gondwana Research, revista de referência na área de geologia e paleontologia. A pesquisa foi publicada na terça-feira (2) e é assinada por Müller e por Maurício Silva Garcia, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal da UFSM.
O fóssil em questão havia sido descoberto em uma escavação por volta de 2016, mas o material acabou ficando guardado na coleção da universidade para ser analisado posteriormente. Segundo Müller, estudos recentes sobre datações de sítios fossilíferos que têm sido publicados no Brasil e na Argentina ajudam os pesquisadores a criarem um cenário mais preciso das idades dos exemplares encontrados no sítio de Dona Francisca, uma região com grande abundância de fósseis de diferentes animais.
— A idade é determinada através de decaimento radioativo. Há alguns materiais presentes nas rochas onde estão os fósseis e, quando estudamos a composição deles, é possível saber sua idade. Quando não há datação para um sítio, é preciso correlacionar a fauna dele com faunas de outros sítios que já foram datados. No nosso caso, foi possível correlacionar a datação de vários sítios próximos com a do local em que encontramos o fóssil.
De acordo com o tamanho do fêmur descoberto em Dona Francisca, estima-se que a criatura tivesse cerca de um metro de comprimento, tamanho esperado para animais pertencentes a este grupo e período da história. O pequeno fóssil confirma o entendimento de que os ancestrais dos dinossauros passaram por muitos desafios até se tornarem grandes e serem capazes de dominar os ecossistemas durante os períodos seguintes da história da vida na Terra.
Em relação ao resto do mundo, apenas alguns precursores dos dinossauros encontrados na Tanzânia e na Zâmbia podem ser mais antigos do que o exemplar brasileiro. No entanto, Müller observa que alguns estudos têm indicado que os registros desses dois países africanos podem, na verdade, ser mais recentes.
— Diferentemente dos materiais aqui na América do Sul, os materiais desses dois países não foram datados. Sua idade é estimada com relação à fauna de lá, e o que estamos vendo é que a fauna do local indicaria que eles podem ser mais recentes. Talvez esse registro daqui possa ser o mais antigo do mundo — projeta o pesquisador.