Timothy Darvill, professor de arqueologia da Universidade de Bournemouth, na Inglaterra, propôs uma solução para o diagrama presente no calendário solar do santuário de Stonehenge, no condado de Wiltshire, próximo a Londres . O estudo foi publicado no periódico científico Antiquity.
Em um artigo de 17 páginas, o pesquisador explica como as pedras que compõem o monumento eram utilizadas para marcar a passagem do tempo e especula o motivo para elas terem sido dispostas daquela forma. De acordo com Timothy, o calendário é baseado em um sistema simples em que 12 meses de 30 dias cada um englobam três semanas de 10 dias.
Com a multiplicação dos dias e meses, era obtido um total de 360 dias. Por conta disso, o povo de Stonehenge considerava um mês extra que continha cinco dias. Assim, o calendário anual continha 365 dias.
Segundo a pesquisa, os números das divisões e subdivisões do calendário estão presentes no próprio desenho da arquitetura original do santuário, elaborado há 4,5 mil anos. De acordo com o cientista, as colunas de pedra que estão dispostas em forma de círculo são 30, o que significa que havia uma para cada dia do mês.
Outra observação presente no estudo é que no centro do santuário se encontram cinco estruturas dispostas no formato de letra "U" — chamadas de trílitos (duas colunas verticais de pedra com uma viga pedregosa disposta em cima). Para o professor, cada um desses trílitos representaria os cinco dias do mês "excedente" do calendário. Segundo alguns arqueólogos, cada um desses cinco dias especiais poderia também estar associado a alguma divindade.
Como a duração precisa de um ano astronômico é de 365 dias adicionado a um quarto, o calendário de Stonehenge precisaria de algum ajuste para seu pleno funcionamento. De acordo com Timothy, para resolver esse problema os povos antigos provavelmente decretavam que a contagem do ano só deveria começar no momento em que o pôr do sol estivesse perfeitamente alinhado com a entrada e saída do círculo de pedras — fenômeno que sempre ocorre no solstício de inverno .
O modelo de calendário de 365 dias com a fórmula 30 multiplicado por 12 e somado a cinco era utilizado por outros povos antigos. O que não foi descoberto é se o povo de Stonehenge desenvolveu esse sistema ou o herdou de outros povos antigos. A fórmula já foi encontrada em achados do Leste Mediterrâneo, sobretudo, no Egito.
Pontas soltas
Apesar das explicações dadas por Timothy, há algo não explicado em sua hipótese. Não existe um conjunto de pedras em Stonehenge que tenha 12 unidades, o que deveria equivaler ao número de meses do ano.
"Apesar de nenhuma pedra do arranjo central poder ser especificamente identificada com os 12 meses, é possível que arranjos menos conhecidos dentro da entrada nordeste do templo e ao redor dela tenham marcado esse ciclo", explicou o professor no artigo.
Outra informação não desvendada é o motivo preciso de criação do santuário. Medir o tempo não seria uma resposta plenamente satisfatória porque os povos dessa época já tinham calendários precisos que utilizavam para atividades agrícolas. Os povos da Mesopotâmia, por exemplo, também não precisam de um monumento para medir o tempo. Eles contavam os dias a partir de anotações em pequenas tabuletas de barro.
Para o arqueólogo, as respostas para esses dois mistérios podem ser encontradas a partir do estudo de civilizações antigas de outros lugares, que podem ter inspirado os habitantes de Stonehenge.
O solstício de inverno
Segundo alguns arqueólogos, o santuário poderia ter sido criado para ser um local que permitia a realização de festivais, cerimônias e rituais que ocorriam, sobretudo, durante o solstício de inverno — começava em 22 de dezembro no hemisfério norte.
Para os historiadores, diversos povos antigos da Europa faziam referência ao solstício. A tradição se mantém até hoje, com a data alinhada com o Natal cristão.
Outra tradição que se manteve é a visita das pessoas até o santuário para observar o alinhamento do Sol. Nas últimas décadas, tem sido muito comum a ida de turistas até o local. Apesar do passar do tempo, o local cultiva o clima de devoção mística.
Primeiros calendários
Pesquisas apontam que o primeiro calendário surgiu com os sumérios, na Mesopotâmia, por volta de 2700 a.C. Provavelmente, depois o sistema foi aprimorado pelos caldeus.
O primeiro calendário considerava 12 meses lunares — entendido como o sistema Sol-Lua-Terra — de 29 ou 30 dias. Como cada mês começava na lua nova, o ano tinha 354 dias, o que significa uma defasagem em relação ao calendário solar. Para resolver o problema, os caldeus acrescentavam um mês a cada três anos. Posteriormente, esse sistema serviu de base para o calendário adotado pelos judeus.
O primeiro calendário solar foi criado pelos egípcios em meados do terceiro milênio antes de Cristo. Ele já era mais preciso e continha 365 dias.
Atualmente, no Ocidente é utilizado o calendário gregoriano, que não sofre influência dos astros. Ele foi instituído em 1582 pelo papa Gregório XIII, que reformulou o calendário juliano — herança do império romano.