A internet 5G, tecnologia que promete revolucionar a nossa relação com dispositivos móveis e produtos com inteligência artificial, aos poucos chega ao Brasil. Recentemente, a Vivo anunciou que ativará o serviço em Porto Alegre – e outras sete cidades brasileiras – até o final do mês. A empresa pretende instalar três estações na Capital: uma no bairro Moinhos de Vento, a segunda na Avenida Carlos Gomes e a terceira no Shopping Iguatemi. Já a TIM prometeu, para setembro, emplacar a novidade em Bento Gonçalves, na Serra, e em outros dois municípios no país.
Contudo, o serviço que chega ao Estado e nas demais cidades-piloto não é o que se entende como 5G puro. É o 5G DSS. Essa modalidade é a de Compartilhamento Dinâmico de Espectro (DSS, na sigla em inglês), ou seja, ela utiliza pedaços de frequências excedentes das que foram destinadas para o 4G brasileiro, explica César Marcon, professor do programa de pós-graduação de Ciências da Computação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS):
— O 5G DSS aumenta a velocidade de upload e download, de transmissão de dados e melhora a transmissão de imagem, por exemplo. Entretanto, por não termos uma frequência própria para o 5G, as pessoas não vão conseguir sentir diferença na diminuição da latência, que é o tempo para receber uma resposta às informações entregues, característica que é a chave para o futuro. A iniciativa é boa, porque permitirá maior tráfego de dados e impulsionará a outra ponta, os usuários, a adquirirem aparelhos que suportem a tecnologia, mas tem limitações.
Jéferson Campos Nobre, professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca ainda que dificilmente a cobertura do sinal 5G DSS ultrapassará os limites das localidades anunciadas pela Vivo.
— Provavelmente serão implementadas estações somente nessas áreas, porque são tecnologias que exigem investimento alto. Então, as empresas fazem uso de infraestrutura já existente para testar novos serviços e complementam com o que falta. Foi assim com outras tecnologias, porque isso facilita os testes e adaptações. Mas essa também é uma forma de prospectar novos clientes para o serviço e sinalizar que a companhia está se preparando para a implementação do 5G posteriormente — pontua.
O leilão da faixa de 3,5GHz, que será destinado exclusivamente ao 5G, está previsto para início de 2021. Uma vez implantada essa tecnologia, os brasileiros terão acesso à máxima potência, altíssimas velocidades de internet, maior confiabilidade e disponibilidade, além da capacidade para conectar massivamente um número significativo de aparelhos ao mesmo tempo.
Smartphone compatível com 5G custa quase R$ 5 mil
Atualmente, somente um aparelho vendido no Brasil comporta o 5G e permite ao usuário sentir a diferença de velocidade na conectividade: o Motorola Edge. Na loja oficial da marca, esse modelo está com valor acima dos R$ 4,9 mil. Contudo, a Vivo afirmou que "nos próximos meses deve ampliar a oferta com pelo menos mais dois modelos Samsung". Vale ressaltar que o Motorola Edge é compatível com a tecnologia 5G DSS e 5G. Por outro lado, o Motorola Edge Plus não aceita o 5G DSS, somente o 5G, o que significa que o aparelho só vai acessar o 5G depois do leilão de frequências.
O que dizem as empresas
Por meio de nota, a TIM disse que "vai utilizar a técnica DSS com os fornecedores Ericsson, Huawei e Nokia, que aproveita a agregação de frequências do espectro atual (4G) para chegar à velocidade do 5G" e que "em breve, a TIM anunciará mais detalhes".
O diretor regional Sul da Vivo, Ricardo Vieira, respondeu aos questionamentos de GaúchaZH sobre a nova tecnologia. Confira abaixo:
Já foi implementada a rede 5G DSS em Porto Alegre?
O 5G DSS da Vivo terá sua funcionalidade ativada em Porto Alegre e outras sete cidades brasileiras – São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Rio de janeiro, Goiânia e Curitiba – até o final deste mês de julho. Em Porto Alegre o 5G DDS contempla especificamente as regiões do Moinhos de Vento, Avenida Carlos Gomes e Shopping Iguatemi.
O que significa para a Vivo implementar o 5G DSS nessas cidades? Quer dizer que a empresa está mais perto de colocar o 5G no Brasil?
A Vivo considera a tecnologia 5G fundamental para a digitalização do Brasil e com o potencial de mudar significativamente a forma como vivemos e como as empresas fazem negócios. A empresa tem se alavancado na experiência internacional do Grupo Telefonica para trazer para o Brasil o melhor da tecnologia 5G e está investindo significativamente nos últimos anos para construir a maior rede urbana de fibra ótica no Brasil, o que será um dos grandes diferenciais da futura rede 5G. No último ano, a Vivo investiu R$ 376 milhões no Rio Grande do Sul, dedicados à expansão de rede e qualidade dos serviços fixo e móvel. Somos líderes em cobertura 4G, com 407 municípios, atendendo 98% da população do Estado. E até o final de 2020, 219 destes municípios já contarão com o 4.5G da Vivo. No Brasil, a real experiência de 5G virá com o leilão de 3.5Ghz, com largura de banda de pelo menos 100 MHz, provavelmente a ser realizado no início de 2021. Enquanto isso, por conta dos investimentos constantes na modernização da nossa infraestrutura de rede, conseguimos utilizar a tecnologia DSS e oferecer uma experiência similar ao 5G. A partir desta tecnologia, é possível compartilhar o espectro 3G e 4G não utilizado, de forma dinâmica, para prestar uma conexão próxima à de quinta geração.
Qual a diferença do 5G e do 5G DSS?
O 5G DSS está baseado na tecnologia chamada DSS (Dynamic Spectrum Allocation), que permite compartilhar o espectro 3G e 4G não utilizado, para prestar o serviço 5G. Contudo, como este espectro não possui uma banda contínua e dedicada, a experiência do 5G ainda não poderá ser sentida em sua totalidade. Uma experiência completa do 5G será alcançada com um maior adensamento dos sites, conectados com uma rede de fibra ótica de altíssima capacidade e com frequências dedicadas, que devem ser leiloadas no início de 2021. Quando for possível sua utilização de forma massiva, espera-se que o 5G traga benefícios em três campos principais, que são o da internet móvel de alta qualidade, das comunicações de missão crítica e da internet das coisas. Vale destacar que a principal diferença da internet 5G é a menor latência, ou o menor tempo de resposta para transferir um pacote de dados na rede. A latência é diferente da velocidade. O 5G permite uma taxa de transmissão centenas de vezes maior do que a atual, com picos de até 20 Gbps e uma latência (teórica) de até 1 milissegundo – atualmente, com o 4G, a latência está perto de 80 milissegundos.
Por que Porto Alegre foi escolhida? E por que essas regiões em específico, Moinhos de Vento, Avenida Carlos Gomes e Shopping Iguatemi?
Porto Alegre é uma cidade estratégica para a Vivo e está entre as oito capitais selecionadas para esta etapa inicial de implantação. As cidades e regiões escolhidas apresentam características similares de demanda de tráfego e perfis de clientes.
Estando o ponto de 5G DSS nessas localidades, ele alcançaria toda a cidade? Todos os clientes Vivo poderão usar esse sinal?
Não. Somente será percebida por quem estiver na área de cobertura e possuir um aparelho compatível com a tecnologia. A Vivo tem trabalhado com seus parceiros, fabricantes de smartphones, para aumentar a oferta de aparelhos 5G ready, para propiciar uma experiência completa. Atualmente temos o Motorola Edge e até o mês de outubro devemos lançar dois modelos da Samsung habilitados para o 5G DSS.
Quais os pré-requisitos para usufruir do serviço? Preciso de um smartphone diferente ou plano de internet específico?
Precisa estar na área de cobertura e ter um aparelho compatível. Não há necessidade de plano específico.
Esse serviço vai estar disponível tanto para internet móvel quanto para quem tem planos da Vivo para internet em casa?
Somente para quem utiliza o serviço móvel.
Esse é um teste? Tem prazo para término? Se não for teste, quais os próximos passos?
A Vivo vem desenvolvendo testes com o 5G desde 2018. Agora não se trata de um teste, e sim de antecipar uma tendência através do DSS. O DSS pode propiciar uma melhora na experiência do cliente, mas ela ainda não será a experiência completa do 5G. No DSS, o espectro não utilizado do 4G é disponibilizado dinamicamente para o 5G, sem que exista uma portadora dedicada para este serviço. Somente com o espectro 100% dedicado ao 5G, com largura de banda de pelo menos 100 MHz, o Brasil poderá extrair o máximo dessa tecnologia. Isso só acontecerá após o leilão da faixa de 3.5 GHz, provavelmente a ser realizado no início de 2021.
Como foi possível implementar o 5G sem termos um leilão das linhas?
A Vivo investe constantemente na expansão e qualidade de sua rede, tanto no serviço móvel quanto na rede de fibra, mantendo sua infraestrutura moderna e atualizada. Desta forma, foi possível utilizar as frequências existentes, baseadas na tecnologia DSS e compartilhar o espectro 3G e 4G não utilizado, de forma dinâmica, para prestar o serviço similar ao 5G. Contudo, como este espectro não possui uma banda contínua e dedicada, a experiência do 5G ainda não poderá ser sentida em sua totalidade.