Talvez você se lembre vagamente da explicação sobre o porquê da adição de um dia no calendário a cada quatro anos. Ela ocorre porque uma volta da Terra em torno do Sol – período que convencionamos chamar de ano – leva mais do que os conhecidos 365 dias. Mais precisamente, uma translação completa do nosso planeta ao redor do Sol é de 365 dias, cinco horas, 48 minutos e 46 segundos.
Há um crédito deste período de quase seis horas acumulado por ano. A cada quatro anos, então, há um dia a mais para fechar a conta – situação que ocorre neste ano de 2020, com o acréscimo do dia 29 de fevereiro, neste sábado, no calendário. Este ano com um dia a mais ganha o nome de bissexto.
Mas qual seria a diferença se não houvesse ano bissexto e estas horas fossem deixadas para lá? Segundo o professor de física e coordenador do Observatório Astronômico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), João Harres, como marcamos os ciclos da Terra pelos movimentos em relação ao Sol e à Lua, é importante que as datas do calendário correspondam a esses fenômenos:
— Os fenômenos astronômicos não teriam correspondência com as datas (se não houvesse o ano bissexto). Por exemplo, se o relógio atrasa um minuto a cada dia, em algum momento, o meio-dia ficaria errado. Esses parâmetros são importantes desde que o homem começou a se fixar, quando deixou de ser caçador e passou a se dedicar à agricultura e teve que aprender as estações do ano — afirma.
As compensações no calendário
O ano bissexto não é a única compensação do período de translação na Terra. Há outros dias especiais no calendário, que ocorrem de forma mais espaçada.
Os anos terminados em 00 têm características particulares. Nos que são múltiplos de cem, mas não de 400, como será o caso de 2100, 2200 e 2300, por exemplo, o dia da compensação não é adicionado. Isso porque ficam de saldo os 12 minutos e 14 segundos, que são ignorados por conta do arredondamento das cinco horas, 48 minutos e 46 segundos para seis horas. Para reequilibrar o calendário, é necessário tirar um dia a cada cem anos.
A mesma lógica vale para os anos múltiplos de 400. Para que seja feita a adição de um dia a cada quatro anos a partir do arredondamento do tempo de translação da Terra, é necessário que a cada 400 anos três desses dias a mais não sejam compensados. Por isso, anos múltiplos de 400 também são bissextos.
Apesar de todas estas adequações, o calendário ainda não é perfeito.
— Como a translação leva um tempo de 365,256363 dias, ainda há números após a vírgula que vão precisar de compensação em algum momento — destaca Harres.
Curiosidades sobre o ano bissexto
- Na Roma Antiga, a contagem dos dias era baseada nas fases da Lua. A ideia de alinhar o calendário ao ano solar é creditada a um pedido do imperador Júlio César ao astrônomo Sosígenes, que foi encarregado de tornar o calendário um sistema mais preciso. Esse novo formato, que entrou em vigor em 4 a.C., foi chamado de calendário Juliano e tinha 365 dias, divididos em 12 meses.
- Neste período, os astrônomos já haviam chegado à conclusão de que era preciso compensar as cerca de seis horas que ficam de fora todos os anos caso o ano seja considerado como o intervalo de 365 dias de 24 horas. Então, foi criado o ano bissexto. Contudo, ainda eram necessárias outras compensações, já que, mesmo com a adição de um dia a cada quatro anos, ao longo de séculos, voltaram a ocorrer distorções nas datas.
- Em 1582, o papa Gregório 13 promulgou uma bula papal que alterava o calendário Juliano, após novos cálculos realizados pelo astrônomo Cristóvão Clávio. O objetivo era corrigir os erros na relação das datas com o ano solar, o que foi feito conforme a explicação anterior. Em homenagem ao papa, o calendário foi batizado de Gregoriano. É o que usamos até hoje.
- A defasagem no calendário foi notada por conta da Páscoa, que é celebrada na primeira lua cheia após o início do equinócio. Começou a se notar uma variação na data do início da primavera no hemisfério norte (outono no hemisfério sul) – quando o Sol nasce exatamente no leste. Isso inspirou a mudança realizada no século 16.
Produção: Állisson Santiago